A frase “Seguuuuura, peão” atravessou gerações e se tornou marca registrada de Asa Branca, locutor que revolucionou a narração de rodeios no Brasil nos anos 1990. Natural de Turiúba, no interior de São Paulo, ele ganhou projeção ao imprimir carisma, ousadia e ritmo próprio às locuções de um esporte que vivia um período de expansão. A trajetória, marcada por sucesso e declínio, agora chega aos cinemas no filme “Asa Branca, a voz da arena”, que estreia nesta quinta-feira, dia 18.
Dirigido por Guga Sander e estrelado por Felipe Simas, o longa constrói uma narrativa com tom mais romântico, inspirada em episódios reais da vida do locutor. O filme retrata a origem humilde e o acidente grave sofrido por Asa quando ainda atuava como peão. Durante uma montaria, ele caiu de um boi, quebrou quatro costelas e teve o pulmão perfurado. Em recuperação em casa, passou a ouvir gravações antigas de rodeios e decidiu mudar de função, deixando as arenas como competidor para assumir o microfone.
Antes da consagração no Brasil, Asa viveu um período nos Estados Unidos, onde trabalhou como imigrante ilegal no Texas. De lá, trouxe um microfone sem fio, equipamento ainda pouco conhecido no país. A novidade permitiu que ele narrasse de dentro da arena, ao lado dos peões, aproximando o público da ação. O estilo rimado e a presença física no espetáculo ajudaram a popularizar seu trabalho. A cada evento, ele buscava novas formas de chamar atenção, como a chegada de helicóptero a um rodeio, cena reproduzida no filme e inspirada em um episódio real.
O longa também aborda o comportamento mulherengo do locutor, sem aprofundar nomes ou relações específicas. Fora da ficção, Asa Branca teve relacionamentos com figuras conhecidas, como a apresentadora Marília Gabriela. Na biografia escrita pelo jornalista Raul Marques, lançada em 2020, é relatado que os dois chegaram a morar juntos em São Paulo e que o relacionamento terminou após ela descobrir uma traição. Ele também se envolveu com a atriz Alexia Deschamps e teve um breve romance com Núbia Oliiver, que chegou a falar sobre ele em entrevista ao “Fantástico” após sua morte.
Embora retrate o auge profissional, o filme não se aprofunda na fase final da vida de Asa Branca, marcada por dificuldades financeiras. Antes de morrer, ele fez um pedido público de desculpas por maus-tratos a animais cometidos no período em que atuava como peão. A declaração provocou reações negativas, incluindo ameaças à família, por ser interpretada como um posicionamento contrário ao esporte que o projetou.
Diagnosticado com HIV em 2007, Asa Branca enfrentou, dez anos depois, um câncer na garganta. A doença evoluiu com metástase, e ele morreu em fevereiro de 2020. O locutor deixou cinco filhos, de mães diferentes, e foi acompanhado até o fim da vida por Sandra, seu primeiro amor, personagem que também aparece retratada na produção cinematográfica.