Antes de alcançar projeção nacional com o espetáculo “Opinião”, em 1965, Maria Bethânia já se destacava nos palcos de Salvador. Ainda adolescente, ela foi apresentada ao ambiente teatral pelo irmão, Caetano Veloso. Nos bastidores, passou a conviver com nomes que se tornariam centrais na música brasileira, como Gilberto Gil e, posteriormente, Gal Costa. Com esta última, construiu uma relação que ultrapassou o campo profissional.
A ligação entre Bethânia e Gal foi marcada por proximidade pessoal e sintonia artística, como relembra a cantora em depoimento. “Era perfeito, maravilhoso. Nós éramos amigas muito próximas mesmo. E como artistas, havia um respeito mútuo imenso e uma alegria muito grande de compartilhar a cena. Isso sempre existiu, não só com Gal, como com os outros participantes. Mas com Gal tinha certamente uma aproximação maior. As canções, muitas vezes feitas para as nossas duas vozes, a diferença do grave para o grande agudo cristalino de Gal, a dramaticidade nos meus tons medianos e graves… E isso era muito entre nós, a gente usava com muito prazer, com muita alegria. Ríamos muito, éramos, fomos muito felizes”.
O relato integra o livro “Maria Bethânia, primeiros anos — Da cena cultural baiana ao teatro musical brasileiro”, do jornalista Paulo Henrique de Moura. A obra resgata o início da trajetória da artista e é fruto de uma dissertação de mestrado defendida no ano passado. A publicação reúne bastidores e memórias construídas a partir de entrevistas com a própria Bethânia, além de abordar com mais profundidade as relações que marcaram o surgimento de importantes nomes da MPB.
Entre essas lembranças, a cantora detalha aspectos do convívio com Gal Costa desde os tempos do grupo amador em Salvador, quando ambas participavam ativamente da criação estética dos espetáculos. “No nosso grupo amador, nós fazíamos os figurinos. Os meninos eram meio uma roupa que normal. Eu sempre cantava de branco e Gal sempre cantava de preto e isso ficou para o resto da vida um registro em nossas carreiras. E sigo assim. E Gal seguiu até onde foi, até onde Deus quis”, afirmou.