Apesar do clima de celebração, o mês de dezembro costuma ser marcado por sobrecarga emocional, ansiedade e sensação de frustração para muitas pessoas. O fenômeno, popularmente chamado de “Dezembrite” ou “síndrome do fim de ano”, está relacionado às cobranças sociais por produtividade, metas cumpridas e comparações constantes.
Segundo a psicóloga, escritora e palestrante baiana Kallila Barbosa, com quase 20 anos de atuação em saúde mental, esse período intensifica emoções por conta da cultura de performance e da expectativa de “fechar o ano” com resultados visíveis. “Somos levados a avaliar a vida apenas pelo que foi entregue ou conquistado, quando muitas transformações importantes acontecem de forma silenciosa”, explica.
A especialista propõe um olhar mais cuidadoso para o encerramento do ciclo anual, priorizando aspectos subjetivos e emocionais. Entre os pontos destacados está o reconhecimento das mudanças internas que não aparecem em metas, mas se revelam em atitudes, limites e na forma de lidar com relações.
Kallila também chama atenção para o impacto das relações ao longo do ano. Para ela, vínculos, rupturas e aprendizados emocionais funcionam como bússolas para compreender a própria trajetória. “Olhar para quem ficou, quem partiu e onde foi preciso se proteger ajuda a ler o ano com mais responsabilidade emocional”, pontua.
Outro aspecto fundamental, segundo a psicóloga, é substituir a autocrítica pelo descanso. Ela defende a pausa como um recurso necessário para reorganizar o corpo e os afetos antes de iniciar um novo ciclo, especialmente em um período marcado pela tentativa de “dar conta” de tudo antes do ano acabar.
As redes sociais também entram nesse processo como fator de intensificação das comparações. De acordo com Kallila, narrativas de sucesso exibidas online costumam desconsiderar contextos, apagando esforços e processos internos que não são visíveis.
Por fim, a especialista reforça a importância da presença no agora. “Ao suspender a pressão do ‘deveria’ e se conectar com as próprias sensações, é possível encerrar o ano com mais verdade, leveza e compreensão da própria história”, conclui.