Numa reviravolta política, a Câmara dos Deputados decidiu, nesta quarta-feira (10), aplicar uma suspensão de seis meses ao mandato do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), rejeitando o pedido de cassação definitiva que havia sido aprovado pelo Conselho de Ética. O placar final pela punição mais branda registrou 318 votos a favor, 141 contrários e três abstenções.
A preservação do mandato representa uma vitória significativa para o parlamentar, visto que, até o início da tarde, a perda do cargo era dada como certa até mesmo por partidos de esquerda.
O cenário mudou graças a uma intensa articulação de plenário, onde aliados de Braga costuraram um acordo com integrantes do Centrão para aprovar uma emenda substitutiva à pena máxima.
Um dos defensores da medida alternativa foi o deputado Fausto Pinato (PP-SP). “Não concordo com a perda de mandato. Sabemos que existe uma rivalidade, mas o parlamento é plural”, argumentou Pinato, ressaltando que, apesar de não ter amizade com o psolista, considera que muitos militantes vão à Casa provocar parlamentares visando futuras candidaturas.
Acusações de interferência e racha no PL
Os bastidores da votação foram marcados por tensão e acusações. Deputados da direita alegaram que a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) do governo federal atuou para salvar o mandato de Braga, supostamente prometendo a liberação ágil de emendas parlamentares.
O governo negou a troca de favores. André Ceciliano, secretário de Assuntos Parlamentares da SRI, admitiu ter telefonado para deputados de diversas legendas, mas rechaçou a oferta de verbas em troca de votos.
A votação também provocou cisão na oposição. O vice-líder do PL, Bibo Nunes (RS), chegou a orientar a bancada a votar pela suspensão, avaliando que não haveria quórum para a cassação. A atitude gerou represália imediata: Nunes foi destituído da vice-liderança pelo líder do partido, Sóstenes Cavalcante (RJ).
Origem do processo e protesto na Mesa
O processo disciplinar contra Glauber Braga foi motivado por um episódio ocorrido em abril deste ano. Na ocasião, o deputado envolveu-se em confronto físico com Gabriel Costenaro, militante do Movimento Brasil Livre (MBL), e com o deputado Kim Kataguiri (União-SP).
A confusão começou com uma discussão verbal e evoluiu para empurrões e chutes desferidos por Braga na tentativa de expulsar o militante das dependências da Câmara.
O julgamento desta quarta-feira ocorreu sob o clima tenso deixado pelo protesto realizado na véspera. Na terça-feira (9), Braga ocupou a cadeira da Presidência da Mesa Diretora por cerca de duas horas, contestando a decisão do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), de pautar o processo.
Após desobedecer ao regimento e recusar-se a sair, ele foi retirado à força por policiais legislativos. A atitude foi criticada por colegas, que classificaram o ato como midiático e prejudicial ao diálogo.