Uma operação da Polícia Legislativa marcou o fim da tarde desta terça-feira (9) na Câmara dos Deputados, resultando na retirada compulsória do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) da cadeira da presidência da Casa.
O parlamentar ocupava o assento principal da Mesa Diretora há cerca de duas horas em protesto contra a pauta de cassação de seu mandato. A ação foi marcada por empurra-empurra, o corte inédito da transmissão da TV Câmara e a expulsão de jornalistas do plenário.
O episódio teve início às 16h04, quando Braga sentou-se na cadeira destinada ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), recusando-se a sair. A tensão escalou até as 17h34, momento em que o sinal da TV pública que transmitia a sessão foi interrompido.
Simultaneamente, profissionais de imprensa foram obrigados a deixar o local, impedidos de registrar o desfecho da ocupação. A assessoria da presidência alegou que a medida seguiu um protocolo de segurança, mas não detalhou qual norma específica fundamentou a decisão.
Durante a intervenção policial, que ocorreu efetivamente às 18h08, o deputado teve o terno rasgado. A confusão envolveu outros parlamentares da base do PSOL: a deputada Célia Xakriabá chegou a cair no tumulto, enquanto Sâmia Bomfim, esposa de Braga, tentou intervir fisicamente para impedir a remoção do marido.
Motivação e histórico do conflito
O protesto de Glauber Braga foi uma resposta ao anúncio feito horas antes por Hugo Motta, confirmando que a cassação do mandato do deputado do PSOL seria colocada em votação ainda neste ano. O processo disciplinar corre desde abril de 2024, motivado por uma denúncia do Partido Novo.
A acusação de quebra de decoro parlamentar baseia-se em um incidente ocorrido nas dependências da Câmara, onde Braga expulsou aos chutes o militante do Movimento Brasil Livre (MBL), Gabriel Costenaro.
O deputado alega ter reagido a provocações sistemáticas e ofensas à honra de sua mãe, falecida semanas após o ocorrido. O relatório do Conselho de Ética, aprovado em abril, concluiu que houve agressão física desproporcional, corroborada por imagens de segurança, recomendando a perda do mandato.
O relator Paulo Magalhães também citou embates anteriores de Braga com o ex-presidente da Casa, Arthur Lira.
Dois pesos, duas medidas
Após ser retirado do plenário, Glauber Braga denunciou o que considera um tratamento desigual por parte da presidência da Câmara. O parlamentar comparou sua remoção forçada com o episódio ocorrido em agosto, quando deputados de oposição ao governo Lula obstruíram fisicamente a Mesa Diretora por mais de 30 horas.
“A única coisa que eu pedi ao presidente da Câmara, Hugo Motta, foi que ele tivesse 1% do tratamento para comigo que teve com aqueles que sequestraram a mesa diretora da Câmara por 48 horas”, declarou Braga.
O caso citado pelo deputado refere-se a um motim liderado por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que protestavam contra decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Na ocasião, a ocupação durou 36 horas na Câmara e 47 horas no Senado, terminando sem intervenção policial.
Hugo Motta, na época fragilizado politicamente, optou por não aplicar rito sumário de punição, encaminhando as representações ao corregedor parlamentar, cujo prazo para análise é de 45 dias.