A trajetória da primeira brasileira no comando do maior avião do mundo

A trajetória da primeira brasileira no comando do maior avião do mundo

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Tiago Mascarenhas, com informações do g1

Arquivo Pessoal/Divulgação

Publicado em 25/11/2025 às 11:08 / Leia em 4 minutos

A piloto Karina Buchalla Lutkus, 46 anos, acaba de se tornar a primeira brasileira a assumir o comando do Airbus A380 na Emirates, a maior aeronave comercial em operação. A conquista, alcançada em 27 de outubro, coroa quase três décadas de carreira marcadas por obstáculos, tentativas de desestímulo e uma persistência que começou ainda na adolescência.

Filha de piloto da antiga Varig, Karina decidiu cedo que seguiria o mesmo caminho. Aos 16 anos, após insistir com o pai, realizou seu primeiro voo de instrução, um teste deliberadamente difícil, planejado para fazê-la desistir.

O efeito foi o contrário: cada manobra só reforçou a certeza sobre o que queria para a vida. A partir dali, recebeu do pai a orientação técnica e, da mãe, o incentivo para manter independência e foco nos objetivos.

Foto: Reprodução

O início, contudo, foi marcado por rejeições. No aeroclube, ouviu que “não era coisa de mulher”. Em busca de horas de voo, chegou a trabalhar por cerca de três anos sem salário, apenas acumulando experiência. Mais tarde, prestou seleção para a Varig em 2001, mas a admissão foi cancelada após os atentados de 11 de setembro.

No ano seguinte, foi contratada pela TAM, mas acabou desligada um dia antes do primeiro voo, após a companhia rever operações devido a dois incidentes na mesma data. Retornou dois anos depois, tornando-se comandante do Airbus A320 e passando também pelas frotas dos modelos 330 e 321 ao longo de 17 anos na empresa.

Em 2019, Karina migrou para a Emirates, em Dubai, mudança que adiou por conta da doença do pai. Na companhia, ingressou como primeira oficial e passou por um processo rigoroso até ser promovida ao comando: avaliações psicológicas, provas técnicas, entrevistas e meses de simuladores, além de instrução em rota. O exame final, realizado já em voo com um copiloto e um avaliador a bordo, marcou o momento mais emocionante da sua carreira.

Pilotar o A380, aeronave usada em rotas de até 16 horas, exige domínio de procedimentos complexos e operação conjunta com uma tripulação que inclui 24 comissários. Em viagens longas, quatro pilotos se revezam entre cabine e área de descanso. Segundo Karina, em conversa com o g1, o treinamento constante e o padrão operacional da empresa foram essenciais para chegar ao topo da profissão.

Hoje, ela vive em Dubai com o marido, piloto aposentado, e os dois filhos pequenos. A rotina, diz, é mais equilibrada do que no Brasil: fica, em média, dois ou três dias fora e cinco dias em casa, o que permite acompanhar de perto a família. O marido assume os cuidados enquanto ela está em voo, sem apoio de funcionários, por escolha do casal.

Para Karina, a promoção é também um símbolo de resistência em uma área que ainda tem baixa presença feminina. Ela relembra que muitos tentaram desestimular sua permanência na aviação, mas o apoio da família e a disciplina foram decisivos. Ao assumir o comando do maior avião do mundo, encerra um ciclo que começou com um desafio no aeroclube e se consolidou em milhares de horas de voo.

“É realização, vitória e emoção”, descreveu ao recordar o instante em que recebeu a confirmação da aprovação. Uma sensação que, depois de 28 anos de carreira, resume a trajetória de quem decidiu não aceitar limites impostos por outras pessoas, e abriu espaço para que mais mulheres possam chegar ao mesmo cockpit.

Foto: Arquivo Pessoal

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