Aos 92 anos, o ator baiano Othon Bastos retorna à sua terra natal, Tucano, na Bahia, depois de 87 anos longe. O artista se apresenta no próximo domingo (30), na Praça da Matriz, com o monólogo “Não Me Entrego, Não!”. A cidade, na região da Caatinga, é marcada na história pelas passagens de Antônio Conselheiro e do cangaceiro Lampião, e está sendo preparada para receber o conterrâneo ilustre com programação especial, que começa nesta segunda (24).
“Depois desses 87 anos, para mim tudo será novidade. Eu quero rever e conhecer a cidade. Se houver alguém da minha geração, quero revê-lo e conversar. Recordo algumas coisas muito vagas. Uma das mais marcantes da minha infância é que, quando chegava a época de chuva na região, meu avô reunia a família no varandão da casa e pedia à minha avó que conduzisse as orações para agradecer a Deus pela chuva que caía, porque aquilo era bom para todos nós, para termos fartura. Eu devia ter 3 ou 4 anos. Então, para mim, vai ser uma grande emoção”, disse o ator ao colunista Anselmo Gois, d’O Globo.
Dias depois da apresentação “em casa”, no dia 11 de dezembro, a montagem, escrita e dirigida por Flávio Marinho, chega ao Petit Trianon, sede da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, onde encerra o ano acadêmico.
O espetáculo é um dos grandes sucessos recentes do teatro brasileiro: já reuniu cerca de 80 mil espectadores, ultrapassando a lotação do Maracanã, passou por mais de 20 cidades e soma aproximadamente 200 apresentações. A turnê segue em cartaz em 2026, quando o monólogo retorna ao Teatro Vannucci, na Gávea, onde estreou em junho de 2024.
Questionado sobre a receita para, aos 92 anos, estar tão bem e com saúde, ele é enfático. “Acho que a única coisa que posso lhe dizer é: trabalho. Eu vivi disso, continuo vivendo disso e irei até o fim com esse empenho. A verdade é essa: o prazer de transmitir, de dar, de me doar, para sentir o carinho das pessoas e perceber que o que vivi está comovendo, está dando a elas uma possibilidade de não se entregarem. É evidente que, durante toda a vida, é preciso cuidar de si. Viver é mais importante do que a posteridade. Então, para mim, viver é isso: empenhar-se. E, como diz Fernando Pessoa, ‘trabalhar é trabalhar-se’. Cada vez que estou no palco, trabalhando, contando meu passado, estou me trabalhando também. Estou me revendo, sentindo-me dentro do espetáculo”, refletiu.
Conhecido nacionalmente desde sua interpretação de Corisco em “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), do conterrâneo Glauber Rocha, Othon ainda aproveitou para criticar a invisibilidade dos idosos no meio artístico. “No meio artístico, diria que é muito difícil. É por isso que muitas pessoas estão buscando criar seus próprios trabalhos, porque não serão chamadas. Meu recado é: pensem e trabalhem, não esperem que lhes chamem”, disse.
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