Projeto que revela rosto de escravizados na Bahia vira exposição em Salvador

Projeto que revela rosto de escravizados na Bahia vira exposição em Salvador

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Tiago Mascarenhas, com informações do g1 Bahia

Arquivo Público da Bahia

Publicado em 06/11/2025 às 08:25 / Leia em 2 minutos

O projeto “Fragmentos da Memória”, lançado nesta quinta-feira (6), no Shopping da Bahia, em Salvador, reconstrói a história de pessoas negras escravizadas a partir de documentos do Arquivo Público do Estado da Bahia (Apeb).

Com o uso de Inteligência Artificial, a iniciativa recriou 40 rostos baseados em registros reais, como passaportes, cartas de alforria e inventários, datados do período colonial.

Entre os retratados está Cenâco, um jovem de 14 anos descrito como “crioulo preto livre” em um passaporte de 1851. Ele foi um dos milhares de negros explorados na Bahia e, séculos depois, ganhou rosto e voz nas telas da exposição.

As imagens e vídeos apresentam ainda personagens como Maria Nagô e Ussá, que contam suas histórias e vivências sob a escravidão.

Foto: Malu Vieira/g1 Bahia

Idealizado por uma equipe formada por paleógrafos, historiadores, arquivistas, artistas visuais e pesquisadores, o projeto surgiu a partir da constatação de que os registros de pessoas negras são escassos e fragmentados, enquanto os de imigrantes europeus permanecem amplamente preservados.

“A população não negra tem sua dignidade simbólica e ancestral documentada. Já os negros tiveram até seus nomes apagados”, explica Jorge X, diretor do Arquivo Público e primeiro negro a ocupar o cargo, em entrevista ao g1 Bahia.

As imagens foram produzidas com base em descrições antigas e em referências visuais da época, como quadros e o livro “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves.

Detalhes como marcas étnicas, vestimentas e expressões foram recriados digitalmente. O uso da IA exigiu ajustes, já que as descrições originais, feitas por pessoas brancas no século XIX, traziam termos racistas e distorções físicas.

Mais do que um exercício de reconstrução histórica, o “Fragmentos da Memória” busca resgatar a humanidade e o pertencimento de pessoas que ajudaram a construir o Brasil, mas tiveram suas identidades apagadas.

“É um processo civilizatório que mostra como chegamos até aqui, acertando e errando”, resume Jorge X.

A exposição fica em cartaz durante todo o Novembro Negro, com visitação gratuita no Shopping da Bahia. Profissionais do Arquivo Público estarão no local para apresentar o processo de criação e o conteúdo histórico que deu origem ao projeto.

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