A jornalista e apresentadora Rita Batista foi um dos destaques do Evento de Fim de Ano do Alô Alô Bahia, nesta quinta-feira (6), em Salvador, onde mediou a conversa com o antropólogo Michel Alcoforado sobre os bastidores, segredos e códigos da elite brasileira. Em entrevista ao portal, ela comentou com bom humor e senso crítico algumas características da alta sociedade baiana e refletiu sobre como esses hábitos dialogam com questões históricas e raciais.
Rita afirmou que a leitura de Coisa de Rico, livro lançado recentemente por Alcoforado, aprofunda o entendimento sobre os comportamentos associados à riqueza no Brasil. Segundo ela, é possível identificar diferentes perfis dentro do universo da elite.
“A gente precisa categorizar, como ele mesmo nos sugere, esses ricos de origem, esses ricos de sempre, desde quando Tomé de Souza fundou a cidade, e os ricos de agora”, disse. Entre os exemplos, citou o hábito de harmonizar espumante com acarajé como um traço típico da elite de Salvador.
A apresentadora também apontou mudanças de comportamento e geografia social na cidade. Mencionou a migração da elite soteropolitana para o Horto Florestal, bairro que, segundo ela, não tem a configuração tradicional de bairro e se tornou símbolo de status. “O Horto é bem coisa de rico. E abandonaram o Corredor da Vitória.” Na mesma linha, observou que falar mal de Salvador também é um comportamento comum entre os mais abastados. Para ela, há uma contradição entre o discurso e a prática. Rita destacou que, apesar das críticas, no verão a cidade se transforma em cenário para fotos em lanchas na Baía de Todos-os-Santos e passeios para a Ilha dos Frades. “Ao mesmo tempo que fica falando mal da sua própria cidade, acha a cidade maravilhosa, instagramável, em uma época do ano.”
A jornalista reforçou que a percepção de atraso atribuída ao município muitas vezes ignora o papel do próprio cidadão na construção da cidade. Comparou comportamentos locais a referências internacionais e ressaltou que a manutenção do espaço público é responsabilidade de quem mora nele.
Questionada sobre até que ponto as críticas aos chamados “novos ricos” esbarram no racismo, Rita afirmou que é preciso observar com atenção as dinâmicas sociais. Para ela, o choque entre ricos de berço e ricos emergentes está ligado à disputa simbólica por território, tradição e reconhecimento. “Cada um quer o seu pedaço e a sua tradição, o seu renome remonta justamente a isso, essa colonização, a papai e a mamãe que foram, que vieram.”
Ela lembrou que muitas famílias tradicionalmente associadas à elite baiana têm origem europeia e ocuparam posições privilegiadas desde o período colonial, enquanto pessoas negras, historicamente escravizadas, não tiveram o mesmo acesso.
Rita destacou que, para negros e negras, a ascensão financeira não apaga barreiras estruturais. Como exemplo, mencionou a trajetória de Mani Reggo, que ganhou projeção nacional após o Big Brother Brasil 24 e passou a frequentar eventos da elite soteropolitana. “Houve uma manchete assim: ‘Mani Reggo aceita pela elite baiana’.” Para a jornalista, o caso evidenciou como a dinâmica de aceitação pode ocorrer, mas afirmou que, para pessoas negras, o marcador racial permanece, independentemente da conta bancária. “Você pode ter todo o dinheiro do mundo, mas com certeza você sempre será lembrado porque você é preto ou preta.”
O Evento de final de ano do Alô Alô Bahia é apresentado pela Costa do Sauípe e tem patrocínio da Moura Dubeux, Artefacto, Kachepot, Shopping da Bahia, Sabin, Melissa, Ecoari, Cristalli e AMB Business’n Fun. Além disso, conta com Apoio Institucional do Governo do Estado e Prefeitura de Salvador e Apoio do Palacete Tirachapéu, Vinícola UVVA, Uranus, Preta Tirachapéu, Fernanda Brinço, Suporte Eventos, Pitta Segurança e Ticketmaker.