O diplomata e físico Ernesto Mané, autor do livro “Antes do Início” (Editora Tinta-da-China), estará em Salvador no dia 15 de novembro, às 18h, para um bate-papo seguido de sessão de autógrafos na Livraria do Glauber, no Cine Glauber Rocha. A conversa será mediada pela escritora Calila das Mercês, pós-doutora pela USP e finalista do Prêmio Jabuti 2023 com “Planta Oração”.
A atividade integra a programação do Novembro Negro na Bahia e tem curadoria de Suzane Sena, da Osupa Productions, iniciativa que atua como ponte cultural entre a Bahia e Nova York. “Trazer Mané a Salvador é uma oportunidade de refletirmos sobre as muitas histórias não contadas que ligam o Nordeste do Brasil à África”, afirma a curadora.
A trajetória de Ernesto Mané é atravessada por múltiplas camadas de identidade. Nascido em João Pessoa e criado entre a Paraíba e São Paulo, ele é filho de pai guineense que veio ao Brasil por meio de um programa de intercâmbio do Itamaraty. Formado em Física, com mestrado, doutorado e pós-doutorado, Mané assumiu em 2024 o cargo de primeiro-secretário da Embaixada do Brasil na Argentina. É fluente em inglês, francês, alemão e espanhol e ingressou no Instituto Rio Branco como bolsista do programa de ações afirmativas.
A reflexão sobre sua identidade começou a se intensificar durante uma viagem à Guiné-Bissau, em 2010, que deu origem ao livro. O autor relata o choque ao perceber que, apesar de se perceber como um “menino negro” no Brasil, passou a ser visto como branco e associado ao colonizador ao chegar ao país do pai. “Sempre me vi como menino negro, isto estava posto desde sempre. Mas quando cheguei à Guiné-Bissau, as crianças me viam como branco e colonizador”, afirma.

A recepção, porém, também trouxe reconhecimento familiar. Em uma sociedade patrilinear, foi reconhecido como guineense e balanta, etnia de seu pai e avô. “Na rua, eu era o forasteiro: roupas, câmera no pescoço, não falava as línguas locais. Na família, fui reconhecido. Levei tempo para elaborar essa perplexidade”, conta.
Para Mané, o racismo opera como uma estrutura global que organiza sociedades e relações. “A miscigenação não nos imuniza; ela convive com hierarquias de raça, classe e gênero”, avalia. Ele destaca que as políticas de ação afirmativa aceleraram processos de inclusão no Brasil, mas indicadores sociais continuam a revelar desigualdades históricas.
Além do evento na Livraria do Glauber, sua passagem pela Bahia inclui uma palestra na Unilab e um painel na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB).
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Sobre o livro “Antes do Início”
Em “Antes do Início”, Ernesto Mané revisita o diário de viagem que escreveu ao conhecer a terra de seu pai. A narrativa se torna uma investigação sobre pertencimento, memória e identidade. O título faz referência ao conceito físico de t=0, o instante em que algo começa, usado como metáfora para pensar o momento de reconstruir-se. O livro articula literatura, ciência, ancestralidade e história para refletir sobre a diáspora africana e as marcas do colonialismo, revelando como as fronteiras raciais podem se deslocar conforme o contexto.