“As redes sociais aceleraram o desgaste do desejo”: Michel Alcoforado fala sobre status, consumo e desigualdade em entrevista ao Alô Alô Bahia

“As redes sociais aceleraram o desgaste do desejo”: Michel Alcoforado fala sobre status, consumo e desigualdade em entrevista ao Alô Alô Bahia

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Gabriela Cruz

Elias Dantas / Alô Alô Bahia

Publicado em 06/11/2025 às 19:39 / Leia em 3 minutos

Antes de subir ao palco do Palacete Tirachapéu, na Rua Chile, em Salvador, nesta quinta-feira (6), para a palestra que marca o encerramento do ano do Alô Alô Bahia, o antropólogo e escritor Michel Alcoforado conversou com exclusividade com o site sobre o modo como os brasileiros expressam riqueza, status e pertencimento — temas que aborda no livro Coisa de Rico – A vida dos endinheirados brasileiros (Editora Todavia, 2025). Doutor em Antropologia Social e fundador do Grupo Consumoteca, Michel tem se dedicado a entender as transformações do consumo e da desigualdade no país.

Em tom leve e irônico, ele comentou como a internet redefiniu o comportamento das elites e acelerou os ciclos de desejo.

“Mudou o modo como os brasileiros performam riqueza e status quando tudo — do café da manhã ao carro — pode ser exibido online. As elites estão se reinventando ou apenas mudaram a forma de se mostrar? Toda vez que uma blogueira mostra uma bolsa nova, morre uma senhora com uma bolsa no corredor da Vitória. O que eu quero dizer com isso? Que o ciclo de mudança e de percepção de diferença ficou cada vez mais rápido. Antes, uma bolsa exigia viagem, tempo, exclusividade. Agora, qualquer pessoa entra no site da marca e vê o modelo do momento. As redes sociais aceleraram tudo. Hoje a gente compra o sapato e já acha que existe um melhor. A gente vai pra um destino e já pensa em outro mais caro, mais distante. As coisas se gastam rápido — inclusive o desejo”, afirma

Na conversa, o antropólogo também refletiu sobre as particularidades das elites nordestinas e o modo como as desigualdades se manifestam na geografia das cidades.

“O que fascina as elites brasileiras é uma preocupação com a distância. Em cidades com uma trajetória mais longa, como Salvador, isso fica muito claro na distribuição do espaço urbano. Existe uma naturalização dessas distâncias — de manter os outros nos lugares dos outros e a gente no lugar da gente. A elite baiana, em especial, tem uma relação forte com a ideia do ‘desde sempre’: a fazenda de vovô, a presença nas origens da cidade, nos eventos históricos. Isso marca profundamente o modo de viver e de se enxergar. Mas o que proponho não é uma crítica, e sim um chamado à consciência. Se queremos um país com menos desigualdade, precisamos nos acostumar a viver mais próximos, conviver com o diferente e diminuir essas fronteiras simbólicas e sociais.”

Michel encerrou destacando a importância da reocupação do Centro Histórico de Salvador, que considera um exemplo de mudança em curso: “Só o fato de as pessoas voltarem a circular aqui, de transitarem por ruas antes evitadas, já é um avanço. É assim que se inventam novas formas de ser e de viver em uma cidade”. 

O Evento de final de ano do Alô Alô Bahia é apresentado pela Costa do Sauípe e tem patrocínio da Moura Dubeux, Artefacto, Kachepot, Shopping da Bahia, Sabin, Melissa, Ecoari, Cristalli e AMB Business’n Fun. Além disso, conta com Apoio Institucional do Governo do Estado e Prefeitura de Salvador e Apoio do Palacete Tirachapéu, Vinícola UVVA, Uranus, Preta Tirachapéu, Fernanda Brinço, Suporte Eventos, Pitta Segurança e Ticketmaker.

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