Cães abandonados em Chernobyl ficam azuis e intrigam cientistas com possível ‘evolução acelerada’

Cães abandonados em Chernobyl ficam azuis e intrigam cientistas com possível ‘evolução acelerada’

Redação Alô Alô Bahia

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Publicado em 28/10/2025 às 17:42 / Leia em 3 minutos

Um fenômeno intrigante vem despertando a curiosidade de cientistas e internautas na Ucrânia: cães de rua com pelagem azul brilhante foram avistados nas proximidades da antiga usina nuclear de Chernobyl. As imagens, divulgadas pela organização Dogs of Chernobyl, mostram ao menos três animais com o tom incomum vagando entre as ruínas do local do desastre de 1986.

“Já vimos muita coisa em Chernobyl, mas isso foi realmente único”, disse um porta-voz da instituição, que atua na região desde 2017 em parceria com a ONG Clean Futures Fund. O grupo realiza esterilizações, fornece cuidados veterinários e alimenta cerca de 700 cães que vivem na chamada zona de exclusão — uma área de 30 km ainda restrita à presença humana.

Segundo a organização, os cães coloridos foram encontrados durante uma ação de captura para esterilização. “Encontramos três completamente azuis. Ainda não sabemos o que está acontecendo”, informou o grupo nas redes sociais. Os animais, segundo moradores locais, apresentavam coloração normal dias antes de serem vistos com a pelagem azulada.

A principal hipótese é o contato com alguma substância química presente nas ruínas, e não com radiação, como especularam alguns internautas. Apesar da aparência curiosa, os cães pareciam “ativos e saudáveis”.

O caso reacendeu o interesse da comunidade científica sobre como esses animais têm sobrevivido e se adaptado a um dos ambientes mais contaminados do planeta. Em 2023, um estudo publicado na revista Science Advances analisou o DNA de 302 cães selvagens da região e encontrou diferenças genéticas marcantes em relação a outros que vivem fora da zona de exclusão.

“Eles desenvolveram mutações que os ajudam a sobreviver e se reproduzir nesse ambiente? Quais desafios enfrentam e como lidam com eles geneticamente?”, questionou a geneticista Elaine Ostrander, uma das autoras da pesquisa, em entrevista ao The New York Times.

Os cientistas observaram sinais de adaptação rápida, embora não tenham encontrado evidências diretas de mutações causadas pela radiação. Outros estudos, conduzidos por Norman J. Kleiman, da Universidade Columbia, confirmaram que há duas populações distintas de cães: uma próxima à usina e outra nos arredores da cidade de Chernobyl — ambas prosperando, apesar da contaminação.

Matthew Breen, geneticista da Universidade Estadual da Carolina do Norte, também ressaltou à Science News a relevância dessas descobertas: “A grande questão é se um desastre ambiental dessa magnitude pode deixar marcas genéticas duradouras na fauna local.”

Alguns cães apresentam marcadores ligados à reparação de DNA, o que pode ajudar a entender como seres vivos resistem à exposição prolongada à radiação. Pesquisadores acreditam que compreender a genética desses animais pode, futuramente, auxiliar na proteção humana contra ambientes radioativos — inclusive em missões espaciais.

A região de Chernobyl, hoje tomada pela vegetação, abriga lobos, alces, raposas e rãs que também mostram sinais de adaptação — entre elas, uma espécie de rã negra que desenvolveu pigmentação mais escura para se proteger.

“É impressionante pensar em famílias de cães vivendo tão perto de barras de combustível nuclear”, disse Ostrander. “Esses animais representam a incrível capacidade da vida de se adaptar. O DNA deles guarda, literalmente, a história dos antigos cães domésticos deixados para trás.”

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