Estudos indicam mais de 100 mil corpos de escravizados sob estacionamento da Pupileira em Salvador

Estudos indicam mais de 100 mil corpos de escravizados sob estacionamento da Pupileira em Salvador

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

com informações do CORREIO

Divulgação/ Arqueólogos Consultoria e Pesquisa Arqueológica

Publicado em 27/10/2025 às 20:23 / Leia em 3 minutos

Estudos apresentados no Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA) apontam que o estacionamento localizado no Complexo da Pupileira, pertencente à Santa Casa de Misericórdia, no Campo da Pólvora, em Salvador, abriga os restos mortais de mais de 100 mil pessoas escravizadas. O resultado da pesquisa arqueológica foi apresentado no último dia 21, durante reunião com representantes do Iphan, Ipac e Fundação Gregório de Mattos.

Segundo os pesquisadores, o local funcionou por cerca de 175 anos como cemitério de pessoas que viviam à margem da sociedade, como escravizados, pobres, indigentes, não batizados, excomungados, suicidas, prostitutas, criminosos e insurgentes — entre eles, líderes da Revolta dos Malês.

“É um tema de relevância para a formação da memória social e coletiva da Bahia e do país, pois estamos falando de séculos em que pessoas foram retiradas de seu território de maneira forçada para serem escravizadas e que tiveram seus laços quebrados e memórias apagadas”, afirmou a arqueóloga Jeanne Almeida, responsável pelo estudo.

Estudos indicam mais de 100 mil corpos de escravizados sob estacionamento da Pupileira em Salvador

Atualmente, a área é utilizada como estacionamento. A partir da recomendação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o MPBA irá solicitar à Santa Casa a suspensão imediata do uso do espaço.

“Nosso objetivo é garantir a proteção do local enquanto sítio arqueológico de memória sensível e promover um processo de reparação histórica, rompendo o ciclo de silenciamento desses grupos”, disse o promotor de Justiça Alan Cedraz, coordenador do Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Nudephac).

Estudos indicam mais de 100 mil corpos de escravizados sob estacionamento da Pupileira em Salvador

A reunião contou ainda com as promotoras de Justiça Cristina Seixas e Lívia Sant’Anna Vaz, além de representantes da Santa Casa de Misericórdia, da Fundação Gregório de Mattos (FGM) e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac).

A pesquisa, realizada entre os dias 13 e 23 de maio de 2025, identificou fragmentos ósseos humanos e materiais arqueológicos compatíveis com o antigo cemitério. O estudo integra um conjunto de ações iniciadas em dezembro de 2024, com a assinatura de um termo de cooperação técnica entre o MPBA, a Santa Casa e o grupo de pesquisadores.

A arquiteta e pesquisadora Silvana Olivieri e o advogado e professor Samuel Vida reforçaram a importância de reconhecer o local como Sítio Arqueológico Cemitério dos Africanos, pedido já encaminhado ao Iphan. O órgão, por sua vez, recomendou a proteção integral da área e a criação de um memorial aberto ao público para preservar a memória das pessoas ali enterradas.

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