Cinco municípios da Bahia estão em zona de desertificação, aponta pesquisa do Inpe

Cinco municípios da Bahia estão em zona de desertificação, aponta pesquisa do Inpe

Redação Alô Alô Bahia

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José Mion/Alô Alô Bahia com informações da Carta Capital

Reprodução/Senado

Publicado em 27/10/2025 às 11:04 / Leia em 4 minutos

A comunidade de Frade, tradicional povoado de fundo de pasto localizado em Curaçá, no interior da Bahia, é hoje um retrato da aridez que avança pelo Sertão do São Francisco, a cerca de 550 quilômetros de Salvador. Inserida na chamada “mancha árida”, a região está entre as áreas identificadas por pesquisadores como em processo de desertificação, fenômeno que atinge cinco municípios baianos: Curaçá, Abaré, Chorrochó, Macururé e Rodelas.

As temperaturas locais frequentemente ultrapassam os 35°C, com sensação térmica próxima dos 40°C. Em 2025, choveu apenas em janeiro. Desde então, a seca tomou conta e transformou a caatinga, vegetação típica do Semiárido, numa paisagem cinzenta e ressecada. As árvores retorcidas e sem folhas, com galhos voltados para o alto, parecem mortas, mas voltam a esverdear ao menor sinal de chuva, reacendendo a esperança de quem vive e resiste na região.

Uma pesquisa publicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden) mostrou que quase mil quilômetros quadrados do Nordeste haviam migrado da categoria climática semiárida para árida, estendendo-se do Norte da Bahia ao Sul de Pernambuco. A atualização mais recente, porém, retirou a parte pernambucana da chamada mancha árida, mantendo o foco na Bahia. A área afetada chega a 4,2 mil quilômetros quadrados, praticamente o mesmo tamanho da Região Metropolitana de Salvador (4,3 mil km²).

Segundo a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, o fenômeno é medido a partir do índice de aridez, que relaciona a precipitação (chuva) com a evapotranspiração (perda de água para a atmosfera). Quando esse índice varia entre 0,05 e 0,2, o clima é considerado árido e é exatamente o caso do interior baiano, que atingiu 0,18. A faixa de 0,2 a 0,5 caracteriza o semiárido, comum no Nordeste e em partes de Minas Gerais e Espírito Santo.

“Na desertificação, a superfície resseca e se impermeabiliza, impedindo a infiltração da água. A vegetação perde vigor, a atmosfera aquece, as chuvas diminuem e até os lençóis freáticos recuam. Os rios passam a ser intermitentes e, com frequência, as pessoas acabam abandonando essas áreas. O processo começa com a degradação ambiental: o solo perde sua capacidade produtiva, gerando impactos econômicos, hídricos e sociais”, explica o pesquisador Aldrin Pérez, em entrevista à Carta Capital.

Ao contrário do que muitos imaginam, a desertificação não transforma uma região árida em deserto, cujo índice de aridez é inferior a 0,05 e o clima é hiperárido. A mudança de categoria climática é, muitas vezes, imperceptível para os moradores locais, acostumados historicamente a conviver com longos períodos de seca.

Para especialistas, tecnologias sociais como cisternas para captação de água da chuva são essenciais para garantir um modo de vida sustentável nessas comunidades, permitindo produção e permanência no território. Sem políticas públicas adequadas, no entanto, a vida nessas áreas torna-se cada vez mais difícil.

Em setembro, uma comissão coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente concluiu a atualização do Plano de Ação Brasileiro de Combate à Desertificação, que estabelece diretrizes para os próximos 20 anos. O documento foi construído com base em uma consulta pública que envolveu mais de 1,2 mil participantes, entre representantes da sociedade civil, setor privado, pesquisadores e gestores públicos. A proposta inclui ações de restauração da caatinga e iniciativas de adaptação ao Semiárido, e será apresentada na COP 30, em novembro, em Belém (PA).

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