Pesquisadores descobriram um cemitério histórico de mais de 100 mil pessoas no estacionamento da Pupileira, na Santa Casa de Misericórdia, no centro de Salvador. O local pode ser o maior cemitério de escravizados da América Latina, segundo o Ministério Público da Bahia (MP-BA).
Os resultados da pesquisa arqueológica foram apresentados em reunião no dia 21 de outubro, com a presença de representantes do MP-BA, do Iphan, da Fundação Gregório de Matos (FGM) e do Ipac.
A descoberta ocorreu durante a pesquisa de doutorado da arquiteta urbanista Silvana Olivieri, da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Utilizando mapas históricos do século 18, fotos de satélite e literatura da época, a pesquisadora identificou o cemitério no local que hoje funciona como estacionamento.
As escavações começaram em 14 de maio de 2025. Nos primeiros dias, foram encontrados fragmentos de objetos e porcelanas do século 19, seguidos pelas primeiras ossadas cerca de 10 dias depois. Apesar da descoberta, o espaço ainda é utilizado como estacionamento, e o Iphan recomendou a suspensão do uso do local.
A pesquisadora solicitou que o espaço seja reconhecido oficialmente como “Sítio Arqueológico Cemitério dos Africanos”, pedido já encaminhado ao Iphan.

Mapas antigos ajudaram na localização de cemitério de escravizados do século 18 — Foto: Silvana Olivieri
Segundo os estudos, os sepultamentos eram feitos em valas comuns e superficiais, sem cerimônias religiosas. A maioria dos enterrados eram escravizados, mas também há registros de indígenas, ciganos e pessoas que não podiam custear enterros formais. Pesquisas indicam ainda que participantes de revoltas históricas, como os Malês, dos Búzios e da Revolução Pernambucana, podem ter sido enterrados no local.
O cemitério foi administrado inicialmente pela Câmara Municipal e depois pela Santa Casa, funcionando por cerca de 150 anos, até a inauguração do Cemitério Campo Santo, no bairro da Federação, em 1844.