A Mulher na Cabine 10, adaptação do best-seller de Ruth Ware, chega à Netflix apostando no suspense psicológico em cenário de luxo: um superiate em alto-mar. No centro da trama, uma jornalista presencia algo perturbador durante a viagem e, a partir daí, mergulha numa espiral de dúvida, paranoia e perigo.
Dirigido por Simon Stone e estrelado por Keira Knightley, o filme mira a tensão permanente, com aquela sensação de “ninguém vai acreditar em você” que alimenta bons thrillers. O resultado é um entretenimento eficiente, ainda que desigual, que funciona melhor quando aposta na atmosfera do que nas respostas.
Stone transforma o superiate em palco claustrofóbico: corredores estreitos, cabines espelhadas e decks silenciosos sugerem vigilância constante. A câmera valoriza portas semiabertas, reflexos e a proximidade do mar para criar desconforto; é um suspense de olhar, mais do que de ação.
O roteiro mantém a protagonista sempre um passo atrás, o que sustenta o mistério por boa parte da projeção. Em contrapartida, algumas pistas soam didáticas e a costura final carece do impacto que o acúmulo de suspeitas promete. Ainda assim, o filme preserva coerência emocional ao insistir na dúvida como motor dramático.
Knightley entrega nervo e vulnerabilidade, equilibrando determinação e fragilidade sem cair no exagero. Ao redor, Guy Pearce aparece com elegância calculada, enquanto Hannah Waddingham adiciona presença magnetizante — um trio que ajuda a manter a curiosidade acesa mesmo quando o texto patina.
A fotografia aposta em tons frios e contrastes vítreos que reforçam a sensação de isolamento. A trilha usa pulsos discretos em vez de crescendos óbvios, e a montagem prefere cortes secos que interrompem certezas e reencenam a dúvida. O desenho de som — batidas surdas, água, passos — é decisivo para acionar o desconforto sem apelar a sustos fáceis.
Comparado ao romance, o longa simplifica motivações e concentra suspeitas em menos personagens, acelerando a dinâmica de “gato e rato”. Perde-se alguma nuance psicológica do texto original, mas ganha-se fluidez para streaming: ritmo enxuto, ênfase no jogo de percepções e no ponto de vista da protagonista.
A Mulher na Cabine 10 não reinventa o gênero, porém entrega suspense competente e visualmente bem acabado. Quando confia no trio principal e no espaço como ameaça, funciona muito. Quando precisa amarrar tudo em grandes revelações, fica aquém do que prometia. Ainda assim, é escolha certeira para quem gosta de mistérios elegantes em cenários confinados.