Crise do metanol derruba vendas de bares e restaurantes no Brasil

Crise do metanol derruba vendas de bares e restaurantes no Brasil

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Com informações de g1

Reprodução

Publicado em 21/10/2025 às 13:15 / Leia em 5 minutos

Setembro trouxe um cenário difícil para o setor de alimentação fora do lar no Brasil. Após três meses de estabilidade, bares e restaurantes registraram retração nas vendas: o consumo caiu 4,9% em relação a agosto e 3,9% na comparação com o mesmo mês de 2024. Mesmo concentrando a maioria dos casos de intoxicação por metanol, São Paulo esteve entre os estados menos afetados economicamente pela crise.

Os dados fazem parte do Índice Abrasel-Stone, levantamento mensal elaborado pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em parceria com a Stone, com base em transações financeiras de estabelecimentos em 24 estados.

De acordo com o estudo, o desempenho negativo reflete a combinação de fatores econômicos e sanitários que vêm pressionando o setor. Entre os principais estão o impacto da contaminação por bebidas adulteradas com metanol, a inflação persistente e o elevado nível de endividamento das famílias.

“Setembro já começou com um ritmo abaixo do esperado”, afirmou Paulo Solmucci, presidente da Abrasel Nacional em entrevista ao g1. Segundo ele, “outros fatores também influenciaram o resultado negativo, como a inflação elevada, que restringiu a renda da população, e o impacto dos casos de intoxicação por metanol, que espalhou pânico entre os consumidores e provocou uma queda na movimentação de alguns estabelecimentos”.

A crise sanitária gerou desconfiança entre os frequentadores de bares e casas noturnas. Até o momento, o país registra 41 casos confirmados de intoxicação por metanol, além de 107 sob investigação e 469 descartados. Oito mortes foram confirmadas — seis em São Paulo e duas em Pernambuco —, e outros 10 óbitos seguem em análise.

Apesar da concentração de casos em São Paulo, o estado teve uma das menores retrações de vendas: 2,7% em setembro. Para o economista da Stone, Guilherme Freitas, esse resultado pode estar ligado à diversidade do mercado paulista e à forte presença de serviços de delivery, que ajudaram a suavizar os efeitos da crise.

Ele ressalta, no entanto, que os casos de intoxicação ganharam destaque apenas na segunda metade de setembro, o que indica que os reflexos sobre o consumo ainda são parciais nos dados atuais.

Ao portal g1, Solmucci destacou que “não há registro de nenhuma garrafa contaminada com metanol identificada em bares ou restaurantes do Brasil” até o momento. Segundo ele, essa constatação ajudou a conter o pânico e reforçar a confiança nos estabelecimentos formais, embora o impacto tenha sido sentido de imediato.

“Os bares especializados em drinks com destilados sofreram uma queda de movimento entre 20% e 25%”, relatou. “Muitos consumidores preferiram migrar para cervejas ou drinks sem álcool.” Em alguns locais, bebidas como uísque e vodca foram substituídas por cachaça, considerada menos vulnerável à falsificação.

Mesmo assim, a Abrasel aponta que o medo dos consumidores está mais relacionado à procedência das bebidas do que à experiência nos bares, especialmente quando se trata de produtos adquiridos de forma informal.

Pressão econômica
Além da crise sanitária, o setor enfrenta desafios econômicos. O índice mostra que a inflação acumulada na alimentação fora do lar segue elevada, o que encarece custos e reduz o poder de compra do consumidor.

“A gente vê a inflação fora do domicílio acumulada em 12 meses já em 8,24%, enquanto o IPCA geral está em 5,17%”, observou Freitas.

Outro obstáculo é o alto endividamento das famílias brasileiras, que limita os gastos com lazer. De acordo com o Banco Central, cerca de 28% da renda das famílias é destinada ao pagamento de dívidas. Embora o desemprego esteja em baixa, a criação de vagas formais perdeu ritmo.

Freitas avalia que ainda é cedo para mensurar completamente o impacto da crise, já que os efeitos devem ser mais evidentes nos dados de outubro. “Como o primeiro fim de semana com a crise já estabelecida foi o de 4 e 5 de outubro, essa segmentação mais fina ficará mais clara com a leitura de outubro em si”, explicou.

Entre os 24 estados analisados, apenas Maranhão (2,6%) e Mato Grosso do Sul (1%) registraram crescimento nas vendas. As maiores quedas ocorreram em Roraima (11,5%), Pará (9,9%), Rio de Janeiro e Santa Catarina (7,6%), além de Paraíba e Sergipe (7%).

Medidas de resposta
Para enfrentar a crise e restaurar a confiança do público, a Abrasel lançou um programa gratuito de treinamento sobre segurança na compra de bebidas. Mais de 15 mil empresários já se inscreveram nas capacitações, que continuam sendo oferecidas diariamente no site da entidade.

O curso apresenta orientações práticas para prevenir riscos e reforçar a credibilidade do setor. Entre as recomendações estão:

  • Compra segura: adquirir bebidas apenas de fornecedores confiáveis e com nota fiscal.
  • Verificação dos produtos: checar rótulos, lacres e preços suspeitos. “Se você está acostumado a pagar R$ 100 por uma bebida e encontra por R$ 50, não compre. Provavelmente é falsificada”, alertou Solmucci.
  • Descarte correto: inutilizar garrafas após o uso, danificando o gargalo para impedir reutilização.
  • Transparência com o consumidor: exibir notas fiscais, deixar os rótulos visíveis e manter total clareza sobre a origem das bebidas.

Solmucci desaconselha, entretanto, o uso de promoções agressivas para recuperar o movimento. “Nosso foco é garantir a confiança do consumidor”, afirmou. “Promoções podem passar uma ideia errada de que se comprou barato.”

A expectativa da Abrasel é de que o setor volte gradualmente ao crescimento, sustentado por medidas de segurança, transparência e capacitação dos empresários.

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