Três anos após o último show de Gal Costa (1945–2022), chega às plataformas o primeiro álbum póstumo da artista, “As Várias Pontas de Uma Estrela – Ao Vivo no Coala”, lançado na sexta-feira (17) pela gravadora Biscoito Fino. O disco eterniza o brilho da cantora no palco, transformando a gravação do festival Coala, realizado em 17 de setembro de 2022, em um registro de valor histórico.
Naquele dia, ninguém poderia imaginar que a apresentação de Gal, no palco do Memorial da América Latina, em São Paulo, seria sua última. A artista se preparava para uma cirurgia para retirada de um nódulo na fossa nasal e, embora a voz não estivesse em sua melhor forma, a emoção e a entrega marcaram profundamente o show, agora imortalizado em disco.
Por se tratar de um festival, o repertório não reproduziu com fidelidade o roteiro original da turnê homônima. Músicas como “Estrada do Sol”, “Gabriel” e “Quem Perguntou por Mim” deram lugar a sucessos como “Divino Maravilhoso” e “Palavras no Corpo”, escolhidos para dialogar com o público mais diverso do evento.
A maioria dos arranjos ganhou uma pegada roqueira, que realçou a força de Gal. O gênero afiou as garras de “Tigresa”, interpretada ao lado de Rubel e Tim Bernardes, em um dos pontos altos da apresentação. O trio também dividiu o palco em “Baby”. Sem Tim, Rubel fez feat com Gal em “Como 2 e 2”, enquanto Bernardes brilhou com a cantora em “Negro Amor” e “Vapor Barato”.
Mesmo com as limitações naturais de uma artista que completaria 77 anos uma semana depois, Gal Costa saiu de cena ovacionada por um público majoritariamente jovem, encerrando sua trajetória em um momento de plenitude e comunhão com a plateia.
Com capa minimalista criada por Omar Salomão, que destaca os lábios vermelhos, marca registrada da cantora, o álbum tem mixagem de Duda Mello e masterização de Alexandre Rabaço, ambas de alta qualidade, especialmente considerando que o áudio não foi captado originalmente com a intenção de virar um disco.
Sem que ninguém soubesse, aquele show no Coala Festival se tornaria o canto de cisne de Gal Costa, agora eternizado em um álbum que celebra, com beleza e emoção, o fim luminoso de uma das maiores vozes da música brasileira.