A pergunta que parou o Brasil em 1988 retorna nesta segunda-feira (6), quando Odete Roitman, agora interpretada por Débora Bloch, será assassinada no remake de “Vale Tudo”, escrito por Manuela Dias. A cena vai ao ar no horário nobre da TV Globo, com um enredo que dialoga com os tempos atuais e traz mudanças em relação à obra original.
Na nova versão, a morte acontece em uma suíte do Copacabana Palace, mas o desfecho do mistério só será revelado no último capítulo, no próximo dia 17. Para preservar o segredo, a autora escreveu dez finais diferentes, com cinco possíveis assassinos, e nem os atores sabem qual será exibido.
“Gravei com equipe reduzida a cena da morte muitas vezes, com vários possíveis assassinos. Nem eu sei qual deles será o verdadeiro. Nós, atores, também só saberemos quando o Paulo Silvestrini (diretor artístico) editar o capítulo final e for ao ar”, conta Débora Bloch ao jornal O Globo.
O público mudou
Uma pesquisa do Datafolha, feita em setembro com 2.005 pessoas em 113 cidades, revelou que apenas 4% dos brasileiros desejavam a morte da empresária da TCA. Para 47%, a melhor punição seria vê-la na pobreza; 35% preferiam a prisão.
O resultado contrasta com os dados de 1988, quando Odete foi interpretada por Beatriz Segall (1926-2018). À época, 38% dos paulistanos consultados pelo Ibope queriam que a vilã morresse baleada, enquanto no Rio o índice chegava a 49%.
“Uma leitura completa desses dados envolve diversas frentes, a começar pela desigualdade do país”, analisa a autora Manuela Dias. “Ela torna o dia a dia dos menos favorecidos tão duro que é visto como um castigo maior do que a própria morte. Como dramaturga, penso que desejar a punição de Odete é também uma forma de querer que ela não vá embora”, reflete em conversa com o diário carioca.
Nas redes sociais, a Odete de 2025 ganhou outra camada de afeto. Muitos a chamam de “loba”, exaltando sua liberdade sexual e a forma como conduz a família. “Por mais que a Odete de 1988 fosse liberada sexualmente, ela não tinha a voracidade da de 2025”, explica o pesquisador Lucas Martins Néia, autor de “Como a ficção televisiva moldou um país”. “E, por causa de modificações em outros personagens, como Afonso, Heleninha e Tia Celina, o público dá razão ao comportamento que ela tem como esteio da família”, diz.
Em 1988, o Brasil acompanhou a investigação de “quem matou Odete Roitman?” como um caso policial. Romeu Tuma, então diretor da Polícia Federal, chegou a arriscar que o culpado seria Marco Aurélio (Reginaldo Faria), mas errou. A assassina acabou sendo Leila (Cássia Kis), que matou Odete por engano no apartamento em que a vilã recebia seus amantes.
Na época, o trio de autores também cogitou outros suspeitos: César (Carlos Alberto Riccelli), Olavo (Paulo Reis), Queiroz (Paulo Porto) e até o jovem Bruno (Danton Mello), filho de Leila e Ivan. “Não cheguei a gravar a cena, mas fui cotado”, lembra Danton Mello, que tinha 13 anos na época. “Lembro de ter ficado amarradão, (pensando) ‘vou ser o cara que vai matar a mulher que o Brasil odeia’”, revela.
O episódio exibido em 24 de dezembro de 1988 alcançou 81 pontos no Ibope do Rio. Hoje, a novela marca média nacional de 26 pontos, mas conquistou outro recorde: é o folhetim com maior alcance histórico no Globoplay. Segundo a Globo, 82% dos usuários que interagem com a hashtag #ValeTudo nas redes sociais têm entre 18 e 34 anos.
O sucesso também se reflete no mercado. A trama do assassinato atraiu sete anunciantes que criaram campanhas exclusivas, incluindo uma ação a ser veiculada logo após a exibição da morte de Odete.
Amauri Soares, diretor dos Estúdios Globo, adianta que “o público vai se surpreender”, enquanto Manuela Dias confessa que só decidiu quem mataria Odete recentemente. “Pelo meio da novela, comecei a descobrir quem iria matar Odete, mas escrevi há um mês e meio. Acho que era muito pequena para ter minhas próprias apostas em 1988, tinha apenas 11 anos”, conta.
Assim como no passado, o mistério promete mobilizar o país. A diferença é que, desta vez, as redes sociais amplificam a expectativa, enquanto a Globo aposta em manter o segredo até os últimos segundos.