Baiano que estreou em 1988 com o LP “Reggae Resistência”, Edson Gomes completou 70 anos em julho, sendo festejado por diferentes gerações e requisitado como nunca. O cantor atravessa uma fase de intensa agenda de shows, com presença em grandes festivais no Brasil.
No próximo dia 19 de outubro, por exemplo, ele se apresenta no Rio de Janeiro, no festival Clássicos do Brasil, na Marina da Glória, ao lado de Maneva, Armandinho e Ponto de Equilíbrio. Em 29 de novembro, será atração do Festival República do Reggae, em Salvador, que reunirá nomes internacionais do gênero.
Em dezembro, participa do festival Psica, em Belém, onde encontrará a cantora maranhense Célia Sampaio, de 61 anos, conhecida como a “Dama do Reggae”. Já em março de 2026, brilhará no Lollapalooza, em São Paulo. Edson também está confirmado no Festival da Virada, em Salvador, cujas atrações foram anunciadas recentemente.
Idolatrado por artistas da nova geração, como João Gomes, o cantor falou ao jornal O Globo diretamente de São Félix, no Recôncavo Baiano, onde mora. “Depois de muito tempo, de muita labuta, de muita estrada, estamos colhendo os frutos. Não sei como aconteceu, só sei que está acontecendo“, afirmou. “A demanda aumentou bastante e, na verdade, está muito cansativo. Tô fazendo show sexta, sábado, domingo. Tá pau-viola“, disse.
Nascido em Cachoeira, Edson cresceu entre as canções de Tim Maia e as ideias de protesto inspiradas por ativistas negros americanos, em uma época em que exibia um volumoso cabelo black power. Em 1983, já com tranças rastafári, conheceu a música de Bob Marley através do baixista Nengo Vieira, e o reggae se tornou a linguagem perfeita para sua mensagem.

Foto: Ítalo Fotografia via g1
“Sempre tive a ideia de fazer letras que falassem dos problemas da raça, dos problemas do dia a dia, mas não tinha um estilo definido. Depois que conheci o reggae, encontrei o veículo certo para levar a minha mensagem”, contou. “Ele [Nengo] ouvia Bob Marley o dia todo, fui forçado a ouvir também. O idioma era uma barreira, até hoje não sei inglês, mas sentia a música. Eu sabia que era de sentimento, de lamento, de protesto”, conta.
Segundo o cantor, o primeiro disco refletiu muito a influência de Marley devido aos arranjos de Nengo Vieira. “Mas, a partir do terceiro disco, quando aprendi a fazer os arranjos, meu reggae não teve mais nada de Bob Marley. Eu não pesquiso, aprendi a fazer da minha maneira”, revela.
Apesar de ter Gilberto Gil, Paralamas do Sucesso e Cidade Negra entre os artistas brasileiros que se aproximaram do reggae, Edson é categórico ao afirmar que apenas ele e a histórica banda maranhense Tribo de Jah fazem um reggae genuinamente nacional.
“Sustentei até hoje o reggae, esse reggae de resistência e de luta, mas com um diferencial, que não é uma coisa pescada na Jamaica”, destacou Edson, que, com um repertório de clássicos lançados entre 1988 e 1997, como “Campo de Batalha”, “Malandrinha”, “Samarina”, “Recôncavo”, “Serpente” e “Fala Só de Amor”, vê suas músicas dominarem o público nos shows.
“Se eu quisesse nem cantaria. A galera canta tudo. No momento não estou nem compondo, porque meu arquivo é vasto. Estou pensando em um novo disco e a dificuldade é grande em selecionar o repertório, tem muita coisa inédita que nós já largamos ao vivo”, revelou.