Durante a leitura de seu voto no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe de Estado, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), recitou um trecho do poema “Que país é este?”, do poeta mineiro Affonso Romano de Sant’Anna. A sessão aconteceu nesta quinta-feira (11), marcando mais um capítulo decisivo no processo que julga os eventos relacionados ao 8 de janeiro de 2023.
A ministra abriu seu voto com uma reflexão sobre a importância do povo na construção da história de um país, destacando o papel da democracia e das eleições regulares no Brasil. Ao citar o poema, considerado um marco de mobilização popular e crítica social, ela trouxe um tom literário à sessão, reforçando o simbolismo do momento.
“Este é um país onde o aviltamento virou monumento. Um país onde o fingimento tem assento no parlamento. Que país é este?”, recitou Cármen Lúcia, referindo-se ao trecho emblemático da obra de Affonso Romano.
A ministra também fez referência ao escritor francês Victor Hugo, mencionando o livro História de um Crime, que critica o golpe de Estado de Napoleão III e traz à tona dilemas morais sobre ações realizadas “para o bem”.
Um julgamento com reflexões culturais e históricas
O voto de Cármen Lúcia foi o quarto apresentado na Primeira Turma do STF, que julga Bolsonaro e mais sete acusados de tentar abolir o Estado Democrático de Direito. A ministra classificou os atos do 8 de janeiro como um ataque “orquestrado e deliberado” contra a democracia brasileira.
A citação do poema também serviu para homenagear Affonso Romano de Sant’Anna, que faleceu em março de 2025, aos 87 anos. Autor de mais de 60 obras e reconhecido por sua produção literária engajada, o escritor mineiro se destacou por unir crítica social, política e poesia, influenciando gerações de leitores.
Quem foi Affonso Romano de Sant’Anna?
Nascido em 1937, em Belo Horizonte (MG), Affonso Romano de Sant’Anna construiu uma carreira sólida como poeta, cronista, professor e ensaísta. Seu texto “Que país é este?” se tornou um símbolo de questionamento político e social, frequentemente lembrado em momentos históricos marcantes do Brasil.
Além da atuação na literatura, foi colunista de grandes veículos da imprensa e se dedicou à popularização da leitura no país. Sua obra segue relevante, especialmente em momentos de crise institucional e debates sobre os rumos do Brasil.
