Ilhas do Nordeste são ‘laboratórios naturais’ de biodiversidade marinha, revela estudo internacional

Ilhas do Nordeste são ‘laboratórios naturais’ de biodiversidade marinha, revela estudo internacional

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Redação Alô Alô Bahia com informações da Exme

Agência Brasil

Publicado em 10/09/2025 às 13:40 / Leia em 3 minutos

As ilhas oceânicas brasileiras estão entre as mais relevantes do planeta quando o assunto é endemismo marinho, ou seja, a presença de espécies que só existem nessas regiões. A descoberta foi publicada nesta quarta-feira (10) na revista científica Peer Community Journal, de Paris, e deve impulsionar políticas públicas e estratégias de conservação ambiental no país.

O estudo internacional analisou mais de 7 mil espécies de peixes que vivem exclusivamente em recifes e corais de 87 ilhas e arquipélagos ao redor do mundo. O resultado mostrou que 12% dessas espécies são endêmicas dessas regiões insulares.

Hudson Pinheiro, pesquisador do Centro de Biologia Marinha da USP (CEBIMar) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, que liderou a pesquisa, destacou a relevância das descobertas. “A importância das ilhas brasileiras é muito maior do que pensávamos e, por vezes, elas não eram nem citadas ou foram historicamente subvalorizadas. Nossos dados e interpretações mostram que elas, na realidade, são verdadeiros laboratórios naturais da evolução das espécies”, defende.

Ilhas brasileiras em destaque

Entre as áreas mais importantes para a biodiversidade marinha duas estão no Nordeste: o Arquipélago de São Pedro e São Paulo, a cerca de 1.100 km de Natal (RN) e Fernando de Noronha. Além delas, é citada Trindade, no Atlântico Sul. Por serem remotas, muitas espécies ocorrem exclusivamente em seus recifes rochosos, e algumas são compartilhadas entre essas ilhas, mas não com o continente.

O estudo propõe um novo conceito, o “endemismo insular-provincial”, que considera não apenas espécies exclusivas de uma única ilha, mas também aquelas que ocorrem em grupos de ilhas de uma mesma região biogeográfica, sem se espalhar para áreas continentais próximas. “Algumas espécies endêmicas de Fernando de Noronha, por exemplo, ocorrem também no Atol das Rocas ou na Ilha de São Pedro e São Paulo, e vice-versa. Mas não colonizaram a região costeira”, explicou Pinheiro.

De acordo com os pesquisadores, cerca de 40% dessas espécies endêmicas têm distribuição extremamente limitada, o que as torna altamente vulneráveis às mudanças climáticas. “Pequenas alterações em ecossistemas oceânicos podem causar grandes consequências. O desaparecimento de cada espécie pode gerar um efeito cascata, provocando desequilíbrio ecológico, especialmente em locais mais isolados”, alertou Juan Pablo Quimbayo, da Universidade de Miami, coautor do estudo.

Para Marion Silva, gerente de Conservação da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, o estudo traz informações cruciais para o futuro da proteção dos oceanos. “Ao revelar a riqueza do endemismo no Brasil, reforçamos a urgência de proteger esse patrimônio. Não se trata apenas de evitar que a biodiversidade desapareça, mas de assegurar que o oceano continue a fornecer recursos, regular o clima e inspirar novas soluções para o futuro”, reforça.

O trabalho foi conduzido por pesquisadores da USP, da Academia de Ciências da Califórnia e da Universidade de Miami e deve servir de base para políticas públicas mais eficazes de conservação marinha.

Compartilhe

Alô Alô Bahia Newsletter

Inscreva-se grátis para receber as novidades e informações do Alô Alô Bahia