Rússia afirma que vacina contra câncer colorretal está ‘pronta para uso’

Rússia afirma que vacina contra câncer colorretal está ‘pronta para uso’

Redação Alô Alô Bahia

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Tiago Mascarenhas

Unsplash

Publicado em 08/09/2025 às 18:51 / Leia em 5 minutos

A Rússia afirmou, na última sexta-feira (6),ter concluído o desenvolvimento de uma vacina experimental contra o câncer colorretal, o mesmo que afetou Preta Gil. A filha de Gilberto Gil foi diagnosticada em 2023, mas não resistiu ao avanço da doença e faleceu em julho deste ano, durante tratamento experimental nos Estados Unidos. As informações são da agência de notícias estatal russa Tass.

A novidade foi divulgada por Veronika Skvortsova, chefe da Agência Federal de Medicina e Biologia (FMBA), durante o Fórum Econômico do Leste, em Vladivostok, na última semana. Segundo ela, o imunizante estaria “pronto para uso” após anos de pesquisa e testes pré-clínicos.

Skvortsova disse que os estudos realizados indicaram segurança e resultados positivos, como redução de 60% a 80% no crescimento dos tumores e maior sobrevida entre os animais testados. A tecnologia utilizada é a de RNA mensageiro, a mesma aplicada nas vacinas contra a Covid-19, mas neste caso com caráter terapêutico, voltada para atacar o tumor já existente.

A vacina foi desenvolvida em parceria pelo Centro Nacional Gamaleya, pelo Instituto Hertsen e pelo Centro Blokhin, todos de Moscou.

Apesar da promessa, especialistas ao redor do mundo destacam que os dados não foram publicados em revistas científicas nem informações claras sobre a etapa regulatória. Não está claro se a Rússia aguarda autorização para iniciar testes clínicos em humanos ou se pretende aplicar a dose diretamente em pacientes.

“Sempre que surge um novo medicamento, é preciso seguir o rigor das fases de estudo clínico para comprovar eficácia e segurança. Sem transparência, não há como avaliar”, afirmou Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), ao O GLOBO.

O oncologista David James Pinato, do Imperial College London, também reforçou à revista Newsweek que, com as informações disponíveis, não é possível saber em que estágio real o projeto se encontra. Ele ressaltou que, no cenário científico, resultados precisam ser revisados por pares e registrados em plataformas internacionais de ensaios clínicos, o que não ocorreu até o momento.

A FMBA já havia declarado no fim de 2023 que a vacina poderia começar a ser aplicada em 2025, expectativa também reforçada pelo presidente Vladimir Putin, que a classificou como uma inovação promissora. Além do câncer colorretal, pesquisas preliminares indicam que versões semelhantes estariam em desenvolvimento para glioblastoma, tipo agressivo de câncer cerebral, e para melanoma, forma mais letal do câncer de pele.

Enquanto isso, outras farmacêuticas avançam em estágios mais transparentes. A americana Moderna, em parceria com a MSD, chegou à fase final dos testes de uma vacina terapêutica contra melanoma, com resultados publicados no The Lancet que apontam redução de até 62% no risco de morte ou metástase.

No Brasil, a Fiocruz retomou neste ano um estudo com RNAm voltado para o câncer de mama, interrompido durante a pandemia.

Câncer que afetou Preta Gil avança entre adultos com menos de 50 anos

Preta Gil é o exemplo recente mais notório da luta contra o câncer colorretal. Segundo levantamento da Sociedade Americana do Câncer, publicado em dezembro do ano passado, a incidência da doença entre pessoas de 25 a 50 anos subiu em 27 dos 50 países analisados,como Nova Zelândia, Chile e Porto Rico, onde os índices cresceram cerca de 4% ao ano.

A pesquisa indica que esse tipo de câncer está avançando mais rápido entre homens em países como Chile, Argentina e Suécia, enquanto em regiões como Inglaterra, Noruega e Austrália, o aumento tem sido maior entre mulheres.

Ainda segundo o estudo, países como Austrália, EUA e Coreia do Sul lideram as taxas de incidência entre jovens, com até 17 casos por 100 mil habitantes. Uganda e Índia estão entre os que têm os índices mais baixos. O Brasil não teve dados incluídos na pesquisa.

A razão para esse crescimento precoce ainda não é completamente compreendida, mas um ponto de atenção dos cientistas é o microbioma intestinal. Pesquisadores identificaram a presença de uma toxina chamada colibactina, produzida por cepas específicas da bactéria E. coli, como possível fator de risco.

Ela provoca mutações no DNA associadas ao desenvolvimento de tumores. Um estudo internacional analisou o DNA de 981 tumores colorretais em pacientes de 11 países e revelou que as mutações ligadas à toxina eram mais de três vezes mais comuns em pessoas diagnosticadas antes dos 40 anos, em comparação com aquelas com mais de 70.

Atualmente, o rastreamento do câncer colorretal no Brasil começa aos 50 anos, mas em outros países a recomendação já foi reduzida para 45, diante do aumento de casos em faixas etárias mais baixas. A colonoscopia segue como o método mais eficaz de detecção precoce, sendo capaz de identificar e remover lesões antes mesmo de se tornarem tumores malignos.

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