Conteúdo apresentado pelo Sebrae
Há cerca de 25 anos, a região sertaneja da Bahia é transformada pelas mãos de mulheres. Do trabalho braçal do campo, elas migraram para a delicadeza da arte manual e ajudaram o estado a se tornar o maior produtor de fibra de sisal no mundo, com uma atuação baseada nos municípios de Araci, São Domingos e Valente.
Tudo começa nos anos 1990, época em que os poços artesanais exigiam das mulheres o trabalho pesado de limpar a terra seca desses tanques na época de estiagem para prepará-los para receber a água das chuvas e assim garantir o plantio e um mínimo possível de qualidade de vida para suas famílias. Mas a mão-de-obra rural, além de exigir muito do esforço físico, não era suficiente para o complemento de renda dessas trabalhadoras. Foi nesse cenário, que programas sociais tiraram as mulheres desse dia-a-dia braçal do campo para especializá-las em artesanato. Organizadas, elas escolheram o sisal, abundantemente presente na região, como matéria-prima e criaram uma cooperativa a partir do momento em que começaram a comercializar as peças que são feitas e tingidas à mão.
Foram três anos até que, em 2002, a Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão (Cooperafis), tomou forma. Com uma forte parceria com o Sebrae, as mais de 50 artesãs que eram distribuídas em cinco núcleos de produção, foram integradas para trocarem experiência, técnica e serem capacitadas para gerir a própria cooperativa. “O Sebrae é muito importante pra gente. Nós somos uma cooperativa bastante independente, mas entendemos que as parcerias são extremamente importantes e o Sebrae é a mais consistente delas nesses 25 anos”, comenta Tamires Carneiro, presidente da Cooperafis, que é vencedora do 5º Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato.

Artesanato transforma realidade de mulheres do semiárido baiano
Saber matriarcal
Aos 37 anos, assim como a maioria das associadas, ela vem de uma família de artesãs de Valente, município localizado a cerca de 240km de Salvador. O saber artesanal do sisal é notadamente feminino, passado das matriarcas para suas filhas, gerando conhecimento e tradição para o desenvolvimento dessas mulheres que posicionam o sisal como representação da preservação ambiental, geração de renda, autonomia e fortalecimento da cultura local. Tamires, por exemplo, cresceu vendo a vó Maria José, conhecida como Patati, e a tia Terezinha, que até hoje é artesã. Em 2006, a atual presidente se associou e passou a se capacitar também para a gestão.
Com o apoio do Sebrae através de consultorias especializadas de design, finanças e gestão, além de ações de mercado que garantem presença em feiras locais e nacionais, a Cooperafis desenvolveu um modelo democrático e participativo de gestão, em que as mulheres exercem mandatos em suas funções. Isso estimula a qualificação das habilidades das artesãs e também valoriza suas comunidades, gerando uma importante experiência de aprendizado do cooperativismo e posicionando a Cooperafis como referência na inserção produtiva das mulheres no contexto de desenvolvimento sustentável no semi-árido brasileiro.
“É principalmente um trabalho de elevação de autoestima e dignidade humana para mulheres a quem era negada até a possibilidade de sonhar”, aponta Tamires. “O artesanato salva essas mulheres da depressão e da ociosidade de uma idade mais avançada. Estar junto com outras pessoas produzindo e se sentindo ativa, traz a felicidade das coisas simples, das conquistas que para uns podem ser pequenas, mas que são enormes para quem não se acostumou a ter acesso em vida”, complementa.

Artesanato transforma realidade de mulheres do semiárido baiano
O sonho e a capacidade de acreditar
Tamires cita a história de uma senhora artesã, já falecida, que não tinha geladeira e que no longo período de seca, enfrentava dificuldades financeiras e escassez de alimento: “A carne que ela comprava, sempre estragava muito rápido. Com o dinheiro que ela conseguiu ganhar com o artesanato, comprou uma geladeira e a primeira coisa que fez, foi enchê-la de carne e contar pra todo mundo, de tão maravilhada que ela ficou”.
A presidente da Cooperafis comenta ainda que, hoje, as artesãs ainda não conseguem viver exclusivamente do artesanato, mas conseguem complementar suas rendas sem perder o otimismo e a rede de apoio que construíram através de suas habilidades artísticas. “Com essas mulheres, eu acredito que aprendi a ter esperança. A gente, de um modo geral, sempre tem a esperança de que as coisas vão melhorar, e elas têm força, amor e conhecem as histórias umas das outras. Eu sou muito apaixonada pelo que construímos juntas nesses 25 anos”, conclui Tamires.
Vale reiterar que o artesanato baiano com o sisal é sustentável, de alta qualidade, transforma vidas, oferece trabalho digno, valoriza o a atuação da mulher e fortalece a economia da região. Histórias como a da Cooperafis são um convite para conhecer e valorizar o patrimônio cultural, econômico e gastronômico do estado na eAgro25, evento promovido pelo Sebrae e correalizado pelo Sistema Faeb/Senar, que acontece de 27 a 29 de novembro, em Salvador. É uma oportunidade para experimentar, aprender e se conectar com a riqueza que existe no campo do estado da Bahia. Informações e inscrições disponíveis no site eagrodigital.com.br.