O bairro de Valéria, em Salvador, ganhou um novo símbolo de identidade e pertencimento. Nesta quinta-feira (4), foi apresentado um mural grafitado produzido no âmbito do projeto “Ocupa Casa do Benin Expandido”, iniciativa que reuniu artistas locais e estrangeiros em um processo de criação coletiva. A parede escolhida para receber a obra foi a do Centro de Artes e Esportes Unificados, situado na localidade. A obra, produzida por cerca de 10 artistas, celebra a conexão entre a Bahia e o país africano Benin. O objetivo é reforçar a importância da preservação da memória e da ancestralidade, além da promoção da arte com a participação ativa da comunidade escolar e de equipamentos sociais situados em Valéria.
O painel é resultado de uma parceria entre a Fundação Gregório de Mattos, a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e a Universidade Federal da Bahia. De acordo com a gerente de equipamentos culturais da FGM, Manuela Sena, a proposta da construção do mural grafitado surgiu após a vinda da artista beninense Drusille Fagnibo ao Brasil. Ela trouxe a ideia de deixar um marco simbólico de sua passagem pela capital baiana.
“Trouxemos a artista beninense, das artes visuais, para dialogar com grafiteiros da região e com artistas locais de diferentes linguagens. Fizemos oficinas de brainstorming para pensar coletivamente quais símbolos, imagens e cores traduziriam o sentimento dessa comunidade. O resultado é um mural que celebra a diáspora africana e reforça os vínculos entre Benin e Salvador”, conta Sena.
Jovens, alunos das escolas da região e pessoas atendidas pelo Centro de Referência de Assistência Social, que fica dentro do CEU, participaram dos encontros e acompanharam o avanço do trabalho, que levou quase um mês para ser concluído.
“Foi um processo longo, que durou quase um mês e envolveu vários artistas. Cada um trouxe suas vivências e perspectivas, e isso resultou numa obra coletiva, em que cada detalhe tem um pedaço da história de quem participou. O mural une elementos de Valéria, como a Lagoa da Paixão, a fauna e a flora, com referências de Benin, como o Portal do Não Retorno. É um diálogo entre continentes que se materializou nas paredes do CEU”, destaca o produtor cultural Carlos Victor, morador de Valéria.
Outros grafiteiros locais se uniram à muralista beninense e encontraram no projeto a chance de trocar técnicas e estilos, como foi o caso de Felipe Hawkins, artista do bairro da Palestina e integrante do movimento hip-hop. Ele avalia que o intercâmbio ampliou horizontes e valorizou a produção artística das periferias e que o grafite e o picho, muitas vezes marginalizados, ganharam reconhecimento através dessa experiência de criação conjunta.
“Fazer parte desse intercâmbio foi maravilhoso porque trouxe valorização para o grafite e para o picho, que são culturas únicas de Salvador. Tivemos a chance de aprender com a artista beninense e também de trocar experiências entre a velha e a nova escola do grafite da cidade. Essa união com o muralismo resultou numa obra que representa Salvador, Valéria e Benin, trazendo símbolos como a Lagoa da Paixão, os paredões e as mãos, que significam força e união”, explica Hawkins.
Valorização territorial – O presidente da FGM, Fernando Guerreiro, explica que a decisão de trazer o mural para Valéria, em vez de centralizá-lo em áreas mais turísticas da cidade, foi estratégica para valorizar o território e reconhecer sua potência cultural.
“Quando a artista beninense chegou, poderíamos ter feito o mural no centro da cidade, mas optamos por trazê-lo para Valéria. Fizemos isso para mostrar a força do bairro, do Boca de Brasa e dessa população que sempre participa das atividades. A Prefeitura tem um olhar especial para toda a cidade, e nada como a arte e a cultura para movimentar, educar e construir um futuro melhor. Esse painel agora pertence a vocês, é um marco e um legado do bairro”, diz Guerreiro.