Sergio Machado fala de filme sobre amizade entre Jorge Amado, Caymmi e Carybé: ‘grandes tradutores da Bahia’

Sergio Machado fala de filme sobre amizade entre Jorge Amado, Caymmi e Carybé: ‘grandes tradutores da Bahia’

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

José Mion/Alô Alô Bahia

Arquivo/Marcelo Navarro

Publicado em 03/09/2025 às 08:17 / Leia em 5 minutos

O documentário “3 Obás de Xangô”, dirigido por Sergio Machado, estreia nesta quinta-feira (4) nos cinemas de todo o país. O longa explora a amizade entre Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé, três gigantes da cultura brasileira, unidos pela Bahia, pelo candomblé e pelo título de obás de Xangô. A obra já percorreu festivais nacionais, conquistando prêmios importantes, como o de “Melhor Documentário do Ano” pelo Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

“Esse é um filme muito pessoal, com muitos aspectos da minha vida. Minha mãe era ligada ao candomblé e lutava contra a intolerância religiosa. Jorge Amado foi como um padrinho para mim no cinema. Ele viu um curta que fiz na faculdade e enviou para Walter Salles. Talvez por isso hoje eu faça cinema”, revelou o cineasta, em entrevista ao Alô Alô Bahia.

Inicialmente concebido como um filme sobre as correspondências trocadas entre Amado, Caymmi e Carybé, o projeto ganhou a marca autoral do cineasta. “Eu quis dar um toque meu, trazer elementos que costuram a obra dos três: o candomblé, o feminino no centro das coisas, o humor muito peculiar e baiano. Tudo isso constrói um imaginário de Bahia que também está presente no meu cinema”, explica.

O documentário se destaca pelo vasto material de arquivo, incluindo imagens inéditas cedidas por João Moreira Salles, que filmou Jorge Amado há três décadas. “Recebi mais de 30 horas de material inédito do Jorge, onde ele aparece muito à vontade. A gente já largou de um lugar muito alto, com imagens inéditas deles filmados em película. Dá sensação que o material foi filmado ontem. Mas, a gente não se contentou e continuou pesquisando. Então, tem imagens da Bahia, do candomblé, de arquivos que a gente encontrou fora do país, na França, na Escandinávia… O trabalho que a gente teve foi de costurar isso tudo de uma forma precisa, criar uma estrutura coesa com esse material”, afirma Machado.

Jorge Amado e Carybé | Foto: Reprodução/3 Obás de Xangô

Entrevistados de peso e temas atuais

O filme reúne depoimentos de Gilberto Gil, Lázaro Ramos, Muniz Sodré, Itamar Vieira Júnior, João Jorge do Olodum, entre outros nomes. A seleção seguiu critérios rigorosos. “Todos os entrevistados são baianos e muitos ligados ao candomblé. Eles ajudam a ancorar essa história no presente. É uma profusão de gente inteligente, que pensa o Brasil e a Bahia de forma profunda”, destaca o diretor. Os entrevistados não apenas reconstroem a trajetória dos três amigos, mas também refletem sobre questões contemporâneas como intolerância religiosa, identidade cultural e afetividade.

O afeto como resposta ao mundo duro

O longa tem emocionado plateias nos festivais por onde passou, incluindo o Festival do Rio e a Mostra de Cinema de São Paulo. “As pessoas saíam do cinema chorando muito. Acho que o que pega, principalmente, é a questão do afeto. A gente está vivendo um momento tão duro, de tanta competição, de tanta disputa e as pessoas estão sempre se relacionando a partir do confronto. E ver um filme que transborda tanta generosidade, tanto afeto pegou as pessoas”, reflete.

Dorival Caymmi | Foto: Divulgação

Salvador como centro criativo

Lançar o documentário em Salvador tem sabor especial para o cineasta, que nasceu e cresceu na capital baiana. “Quando eu falo de Salvador, eu não preciso pedir licença, né? É o lugar onde eu nasci, onde eu cresci, onde eu me formei. A Bahia me deu mais do que régua e compasso. Eu sou o que sou muito por ter nascido na Bahia”, diz Machado, que diz se sentir “100% baiano” e ter Salvador como centro de criação. “Às vezes, mesmo quando as histórias não se passam em Salvador, eu preciso ir para a Bahia para me alimentar da Bahia e do mar”, revela.

Ele lembra que sua estreia no cinema, com “Cidade Baixa” (2005), teve grande impacto local. “Ele não era um blockbuster no mundo, mas em Salvador ele era. Ele foi um filme que fazia filas em Salvador, fez quase um terço do público. E isso é uma coisa muito tipicamente baiana, consumir a própria cultura de uma maneira tão intensa. Torço que isso se repita em ‘3 Obás de Xangô’, acho que as pessoas vão curtir se verem projetadas nas telas de cinema”, acredita o diretor, que já está com novos projetos no horizonte.

Além do lançamento do documentário, Sergio prepara o suspense “Eternamente Sua”, inspirado no cinema de Hitchcock, e um filme sobre a vida do ambientalista Chico Mendes. “Tenho uma inquietude de fazer coisas diferentes. E também vou lançar ‘A Bahia Me Fez Assim’, documentário musical com grandes nomes baianos. A Bahia continua sendo meu centro de criação”, conclui.

Em cartaz

Em Salvador, o filme chega ao grande público em três salas, entre elas o Cine Glauber Rocha, na Praça Castro Alves, onde a obra teve pré-estreia na última semana. O documentário será exibido ainda em duas salas do Circuito Saladearte, o Cine Daten Paseo, no Itaigara, e no Cinema da UFBA, no Vale do Canela.

Compartilhe

Alô Alô Bahia Newsletter

Inscreva-se grátis para receber as novidades e informações do Alô Alô Bahia