O escritor baiano Jorge Amado será homenageado pelo Grand Hôtel Saint Michel, em Paris, com a instalação de uma placa comemorativa na fachada do prédio onde viveu entre 1948 e 1950. A cerimônia está prevista para 23 de março de 2026, data escolhida por coincidir com o aniversário da condecoração de Amado como Doutor Honoris Causa pela Sorbonne, recebida em 1998.
“Voltava de um passeio onde acabara de mostrar a meu neto Francisco o Jardin de Luxembourg, onde meus pais me levavam em minha primeira infância. Ao passar pela rue Cujas, disse a ele que naquela rua morei com meus pais, no Hotel Saint Michel. Fomos até lá para ver o prédio e, nesse momento, conheci Marie Pereiras, que manifestou o desejo de afixar a placa. Dias depois retornei ao hotel com minha mulher Dôra para tratar dos detalhes”, contou o filho do escritor, João Jorge Amado, ao Alô Alô Bahia.

Marie Pereiras entre Dôra e João | Foto: Duda Tawil
Memórias de Paris no pós-guerra
Entre 1948 e 1950, Jorge Amado e Zélia Gattai viveram anos intensos na capital francesa. “Meu pai escrevia ‘Os Subterrâneos da Liberdade’ enquanto se dividia entre encontros com intelectuais como Neruda, Picasso e Sartre, a militância comunista, chegando a vender L’Humanité-Dimanche no Jardin de Luxembourg, e a organização do congresso do Conselho Mundial da Paz”, lembra João Jorge.
“Eles tentavam fazer com que o dinheiro curto fosse suficiente para viver numa Paris ainda marcada pelo racionamento. Usavam margarina no lugar da manteiga, sacarina em vez de açúcar e chicória torrada como substituto do café. Quando eram convidados para almoços, cada pessoa levava sua própria carne para cozinhar”, revela.
O hotel na literatura de Jorge Amado
A passagem pelo Grand Hôtel Saint Michel foi incorporada à obra do escritor. Há referências diretas ao local no livro biográfico “Navegação de Cabotagem” e no romance “Farda, Fardão, Camisola de Dormir, Já”, no qual o hotel aparece como cenário de encontros entre personagens fictícios.
“Meu pai tinha o hábito de transformar experiências em literatura. O Saint Michel aparece nas memórias dele, com citações à proprietária Mme. Salvage e ao porteiro chinês Li-U. A vida real e a ficção se misturavam, como sempre acontecia na obra dele”, diz João Jorge.
O Grand Hôtel Saint Michel fica no n°19 da Rua Cujas, no 5° distrito de Paris, no coração do Quartier Latin. O hotel está próximo da própria Sorbonne, do Jardim de Luxemburgo, do Panteão e do Museu Nacional de História Natural.