Cerca de 30 mulheres participaram, na manhã desta terça-feira (2), da oficina “Artes e Ofícios: Amarração de Turbantes”, realizada na sede da Associação Nacional das Baianas de Acarajé e Mingau, Receptivo e Similares (Abam), na Praça da Cruz Caída, no Pelourinho. A atividade integra o programa Afroestima e segue até quinta-feira (4). Uma nova turma está prevista para os dias 8 a 11 de setembro.
A capacitação é promovida pelo Instituto Iris em parceria com o Conselho Britânico e a Prefeitura de Salvador. Voltada prioritariamente para baianas de acarajé e de receptivo, a iniciativa busca preservar a tradição reconhecida como patrimônio cultural imaterial e, ao mesmo tempo, criar novas alternativas de renda.
O turbante, peça com forte valor simbólico e ancestral, também ganha espaço como ferramenta de empreendedorismo criativo. O domínio de diferentes técnicas de amarração pode abrir possibilidades de negócios, desde a realização de oficinas até a oferta de serviços a turistas, ampliando a atuação das baianas em áreas de visibilidade na cidade.
A professora Laís dos Santos destacou o caráter histórico e identitário do acessório. “Ensinar a fazer turbante é importante porque precisamos fortalecer nosso pertencimento. É uma herança africana e também uma estratégia de resistência e beleza. Hoje eu faço o que gosto, e estar aqui é honrar a minha ancestralidade e empoderar outras mulheres pretas para que possam viver bem e viver felizes daquilo que fazem”, disse.
Participante do curso, a baiana de acarajé Angelice Batista, do Jardim de Alah, reforçou o impacto da formação. “O turbante é uma coroa que nos dá equilíbrio. Cada amarração carrega um design, uma identidade. Para nós, mulheres pretas, é muito importante porque fortalece quem somos e também abre novas oportunidades de negócio. A partir daqui, podemos ensinar outras pessoas, vender nossos serviços e aumentar nossa visibilidade”, relatou.
Na mesma linha, Andréa dos Santos Silva, técnica de enfermagem e também baiana de acarajé, destacou o potencial emancipador da prática. “Não é só um pano na cabeça. Existe uma história e também uma oportunidade. Muitas mulheres encontram nesse aprendizado uma forma de abrir caminhos, seja agregando valor ao trabalho com o acarajé, seja criando novas formas de empreender. Aqui nós nos sentimos empoderadas e reconhecidas. Isso fortalece não só a autoestima, mas também a possibilidade de independência financeira”, afirmou.
Em Salvador, a presença das baianas ultrapassa a dimensão gastronômica. Seus tabuleiros de acarajé, vestimentas tradicionais e turbantes compõem uma imagem que se tornou símbolo do receptivo turístico e da cultura afro-brasileira. O uso do turbante, em especial, representa ancestralidade, resistência e pertencimento.
Ao encerrar sua participação, a professora Laís reforçou a conexão entre tradição e inovação. “Cada dobra do tecido carrega um significado ancestral e agora, também a chance de abrir novas portas para as mulheres que o aprendem a confeccionar. Assim, a oficina se consolida como um espaço de fortalecimento do empreendedorismo feminino e de valorização das baianas como protagonistas da história, da economia criativa e da cultura de Salvador”, concluiu.