Da Bahia para a realeza: conheça produtor de cacau que conquistou paladar de Elizabeth II

Da Bahia para a realeza: conheça produtor de cacau que conquistou paladar de Elizabeth II

Redação Alô Alô Bahia

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José Mion/Alô Alô Bahia com informações do Globo Rural

Thiago de Jesus

Publicado em 26/08/2025 às 09:19 / Leia em 3 minutos

O município de Uruçuca, no sul da Bahia, é referência na produção de cacau especial que abastece marcas premium de chocolate. Há mais de duas décadas, a premiada Fazenda Leolinda, do produtor João Tavares, cultiva um cacau que se destaca pela qualidade e pelo sabor, destinado exclusivamente ao mercado de chocolates finos.

Um exemplo do prestígio do cacau baiano é o chocolate “Chocolate Q”, da chef brasileira Samantha Aquim. Em 2012, uma de suas barras foi degustada e elogiada pela rainha Elizabeth II. A iguaria, além de usar amêndoas cultivadas na Bahia, contava com um design exclusivo assinado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

A principal diferença entre o cacau fino e o cacau commodity está na variedade escolhida e no manejo pós-colheita. Enquanto o cacau fino passa por uma seleção rigorosa, em que apenas frutos maduros e sadios seguem para fermentação e secagem, o cacau commodity não tem triagem: todos os frutos são processados juntos, reduzindo a qualidade e o sabor do produto final.

A Associação Bean to Bar Brasil, presidida por Bruno Lasevicius, também é cliente de João Tavares e atua como ponte entre produtores de cacau fino e chocolaterias. Segundo o especialista, o chocolate “bean to bar” se caracteriza pela ausência de ingredientes ou manipulação industrial. “Para ter o valor que tem, quanto menos intervenção, melhor. Geralmente, chocolate ‘bean to bar’ só tem cacau e açúcar”, explica ao Globo Rural.

Enquanto o ciclo do cacau commodity se limita à colheita, pós-colheita e contato com uma processadora, o cacau fino percorre um caminho mais longo. “O produtor colhe, seca, matura, e envia uma amostra para nós. Só depois, fazemos o chocolate. É um ciclo que pode levar até seis meses, e por isso pagamos mais”, afirma Lasevicius.

João Tavares é referência na produção do cacau fino | Foto: Thiago de Jesus

Nos últimos dois anos, a produção de cacau fino no Brasil enfrentou desafios devido à alta explosiva dos preços do cacau commodity, que saltou de US$ 3 mil para cerca de US$ 8 mil por tonelada. Isso estimulou alguns produtores a priorizar volume em detrimento da qualidade exigida pelo mercado premium.

Em 2023, a Bean to Bar Brasil pagava até quatro vezes o preço da commodity, estimulando a produção de cacau fino. Atualmente, o prêmio pago pela associação é de cerca de 50% sobre o valor de US$ 8 mil da bolsa, segundo Lasevicius.

Apesar da oscilação nos preços, Lasevicius acredita que o interesse em produzir cacau fino se manterá. “Com a variação dos preços, o interesse em produzir cacau fino volta logo”, avalia. Muitos produtores continuam focados em amêndoas especiais, sempre atentos à rentabilidade.

João Tavares relembra que, quando o cacau era negociado a US$ 2 mil na bolsa de Nova York, ele recebia um pagamento adicional de US$ 2,5 mil por tonelada. Hoje, além do preço de US$ 8 mil, o produtor recebe um prêmio de US$ 4,5 mil por tonelada pelo cacau especial.

“Produzir cacau fino exige conhecimento e investimento. Não dá para abraçar os dois lados, ou você escolhe qualidade, ou alta produtividade”, afirma Tavares. Atualmente, ele colhe cerca de 450 quilos de cacau por hectare, acima da média do produto commodity, de aproximadamente 350 quilos, mas ainda considerada baixa. “Seria possível produzir muito mais, mas a qualidade desejada não seria atingida”, conclui.

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