Ainda recém-nascidas, Nadir e Juraci precisaram provar a capacidade da hiper-resistência. As duas palavras grafadas com hífen escolhidas para abrir este texto tentam ilustrar a condição médica rara das duas irmãs. Eram gêmeas xifópagas – duas pessoas unidas a um só corpo.
Nadir e Juraci nasceram em 3 de junho de 1957, curiosamente sob o signo de gêmeos. A mãe era uma feirante, da zona rural de Terra Nova, à época ainda pertencente a Santo Amaro da Purificação. Somente quatro anos após as siamesas virem ao mundo, o distrito conseguiu finalmente se desgrudar, tornando-se autônomo.
Sem informação suficiente, a mãe ficou assombrada diante do que viu ao dar à luz. Não tinha marido e criava, sozinha, outros quatro filhos. Se optou pelo afastamento, não deixou de investir uma última dose de zelo no ato final da renúncia.
Procurou o médico da cidade e entregou as meninas, rejeitando largá-las a ermo. Este gesto – ainda que um inapelável abandono – garantiu a sobrevivência de ambas.
“Elas chegaram em Salvador de ambulância e foram levadas diretamente para a maternidade Climério de Oliveira. Lá, o médico José Adeodato de Souza Filho, diretor da casa, resolveu que elas seriam filhas da maternidade”, conta o médico Antônio Carlos Vieira Lopes, então um jovem estudante de medicina da Universidade Federal da Bahia.
A adoção foi além de uma acolhida afetuosa, avançando para os formalismos burocráticos. Em suas certidões de batismo, Nadir e Juraci adicionaram o sobrenome ‘Climério de Oliveira’. Um caso insólito de meninas que não conheciam os pais biológicos e eram oficialmente filhas de uma maternidade pública.