Entre Igrapiúna e Ituberá, no sul da Bahia, uma antiga área degradada se transformou em referência internacional de conservação. Criada em 2004 pela multinacional francesa Michelin, a Reserva Ecológica ocupa 4 mil hectares no Corredor Central da Mata Atlântica, com mais de 2.700 espécies catalogadas, algumas inéditas para a ciência.
Instalada na região desde os anos 1980 para garantir o fornecimento de borracha natural, a empresa optou por restaurar ecossistemas e envolver comunidades locais. “Essa Mata Atlântica abriga uma biodiversidade única, comparável a pouquíssimos lugares do mundo”, explica Kevin Flesher, diretor da reserva. Para se ter um exemplo, em um único hectare da reserva, são registradas até 450 espécies de árvores, número equivalente ao que se encontra em toda a Europa.
O trabalho começou em um cenário crítico, com floresta quase morta. Mais de 115 mil mudas de 340 espécies foram plantadas, e a fauna voltou a ocupar o espaço. Monitoramentos apontam aumento de 117% nas populações de mamíferos e aves ameaçados, incluindo onças-pardas. “Com proteção e tempo, os bichos voltaram”, resume Flesher, em entrevista à VEJA, que está rodando o Brasil para conhecer projetos inovadores de sustentabilidade e destacar temas relacionados à agenda da COP30.

Reserva Michelin no Sul da Bahia | Foto: Claudio Gatti/VEJA
A reserva recebe cerca de 85 mil visitantes por ano e mantém programas educativos que aproximam comunidades vizinhas da floresta. “A população passa a valorizar a mata depois de conhecê-la de verdade”, afirma Tarcísio Botelho, coordenador socioambiental.
Além da preservação, o espaço é polo científico, com 149 projetos e 39 novas espécies descritas desde sua criação. Pesquisas incluem manejo sustentável de seringueiras e integração de cultivos com espécies nativas, alinhando produção e conservação.
No coração da Bahia, a Reserva Michelin mostra que restaurar é possível e que, quando há cuidado, a floresta volta a cantar.