A empresária, RP e criadora de conteúdo Ju Ferraz, de 44 anos, se emociona ao lembrar da amizade incondicional de Preta Gil. A cantora, que morreu no mês passado, foi a força motriz para que Ju realizasse um desejo antigo: lançar, em 2022, a primeira edição do Body, evento inspirado no movimento de autoaceitação corporal e liberdade de padrões estéticos.
“O Body nasceu das minhas dores, angústias e inseguranças enquanto mulher gorda. E Preta foi a primeira a dizer que eu seria capaz de minimizar essas ansiedades“, conta. “Ela mostrou, com o corpo, que podíamos nos amar, nos sentir bonitas e fortes”, disse Ju ao caderno Ela, do jornal O Globo do último domingo (10).
Após três edições em São Paulo, o Body chega pela primeira vez ao Rio no dia 13, durante o Rio Innovation Week, conferência global de inovação e criatividade. A curadoria, explica Ju, buscou histórias de superação de quem causou impacto, mas nem sempre teve voz ativa, como Rita Batista, Marciele Albuquerque, Bárbara Brito e Dani Rudz.
“O Body é um evento feminino e feminista, que levanta discussões necessárias sobre o movimento body positive e como construir um futuro mais acolhedor, sem imposições. É preciso entender individualmente seu próprio processo”, afirma Dani. Outra presença confirmada é Bianca Ferreira, da L’Oréal Luxo. “A verdadeira beleza está na pluralidade. Ela pode transformar o mercado de luxo”, diz, sobre as reflexões e trocas promovidas pelo evento.

Ju Ferraz | Foto: Gui Nabhan/O Globo
Ju diz que demorou para levar o projeto a outro estado devido ao retrocesso da diversidade como pauta nas empresas e ao boom das canetas emagrecedoras. “No início, coloquei dinheiro do meu próprio bolso. Mas hoje consegui grandes parceiros”, afirma. O Rio, para ela, é destino natural: “A cidade é uma extensão da minha casa, é onde tenho projetos importantes, como o camarote N1 no Carnaval. Estaremos em um evento que abre espaço para múltiplas vozes, com mais escuta, mais troca e mais acesso”.
Sobre corpo livre, Ju ressalta que não se trata de romantizar a obesidade, mas de fazer escolhas conscientes. Há um ano, recorreu ao Mounjaro ao ver suas taxas de glicemia e colesterol aumentarem. “Sempre fui uma voz e uma impulsionadora da liberdade corporal, mas estava prestes a ter um ataque cardíaco e a entrar no grau mórbido da obesidade”, diz. Com 1,55 m, perdeu 30 quilos em um ano, de 92 para 62 kg. “Tudo no meu corpo estava desregulado, e não me vergonho em dizer que estou usando. Mesmo assim, tenho consciência de que nunca serei magra. Nem por isso deixarei de ser bonita, parar de ter alma e consumir moda”.
A moda, aliás, é um campo que ela ocupa com mais força, como mostrou na última Semana de Moda de Paris, usando um Balmain tamanho 42. “É uma forma de potencializar minha história. Moda é imagem, ela facilita a comunicação e dá acesso para estar em lugares em que eu até já estava, mas nunca fui vista como pertencente”.
Sócia-diretora da Holding Clube, responsável por eventos como Rock in Rio e Lollapalooza, Ju enfrentou desde a adolescência compulsão alimentar e distorção de imagem. No livro “Empreendedora da própria vida”, lançado no ano passado, revisitou episódios como bullying na juventude, burnout aos 32 anos e a morte do pai. “Foi um processo doloroso, mas importante para seguir em frente com menos traumas. Por não ter o corpo padrão, eu me submetia todos os tipos de relações amorosas abusivas. São histórias que precisamos compartilhar para que mudem”, alerta.
Hoje, em um relacionamento com o empresário Bruno Garms, vive de forma mais discreta e valoriza o presente. “Você entende que a existência tem fim”. Para ela, a partida de Preta reforça a importância de não adiar os próprios desejos. “Vou pedir autorização para a família Gil para criar um prêmio no Body e ter um painel de mulheres que ela impactou. Tenho essa responsabilidade de seguir com o legado de Preta”.