Com a frase “Acredite no seu axé” estampada em camisetas e jaquetas, a estilista Isa Silva sintetiza a essência de uma trajetória marcada por superação, ancestralidade e propósito. Mulher trans, negra, nordestina e nascida em Barreiras, no interior da Bahia, Isa transformou a moda em instrumento de identidade e inclusão — e hoje é um dos nomes mais influentes do cenário fashion brasileiro.
A marca fundada por ela, que estreou em 2015 na Casa de Criadores e chegou ao line-up do São Paulo Fashion Week três anos depois, passa agora por um rebranding: o nome Isaac Silva dá lugar à nova identidade Isa Silva (IS), marcando um momento de transição pessoal e criativa. A mudança foi apresentada oficialmente no último dia 28 de julho, durante o desfile da coleção primavera/verão 2025, no Museu Afro Brasil, em São Paulo.
“Em 2023, me assumi mulher trans e entendi que minha marca também precisava viver sua transição e refletir essa transformação”, contou à Exame.
Do interior da Bahia às passarelas internacionais
Filha de uma dona de casa e de um caixeiro-viajante, Isa encontrou refúgio no ateliê de uma costureira do bairro, em Barreiras, onde se encantou pela moda ainda na infância. Mudou-se para Salvador aos 13 anos e ali se formou em Design e Gestão de Moda. Mais tarde, já em São Paulo, conciliou estudos e trabalhos diversos enquanto abria espaço em uma indústria historicamente excludente.
Determinada a fundar seu próprio negócio, buscou capacitação técnica e apoio financeiro através de programas como o Juros Zero e o Banco do Povo, que possibilitaram os primeiros investimentos na marca. Desde então, Isa vem acumulando conquistas: foi destaque no Brazilian Fashion Day, em Nova York, e protagonizou colaborações com marcas como Havaianas, Chandon, Tok&Stok, Magazine Luiza e Nívea.
Moda com impacto social
À frente de uma equipe formada majoritariamente por mulheres e pessoas trans, Isa Silva é referência quando o assunto é moda com propósito e impacto social. Seu trabalho vai além da criação de roupas: ela promove oficinas, formações e ações em rede com coletivos como Trans Sol, Tem Sentimento e Casa Neon Cunha — alcançando mais de 200 mulheres com oportunidades de formação e trabalho.
Com mais de 170 mil seguidores no Instagram, a estilista também atua como influenciadora e palestrante. E afirma que o sucesso da marca está baseado em quatro pilares: propósito, rede de apoio, planejamento financeiro e presença ativa em espaços de troca.
“O ateliê salvou os dias tristes da minha vida”, relembra. Hoje, o mesmo universo que a acolheu na infância serve de ferramenta para transformar histórias e abrir portas para outras pessoas, especialmente da comunidade LGBTQIAPN+ e da diáspora africana. As informações são da Exame.
