O governo dos Estados Unidos ordenou a destruição de um lote de anticoncepcionais avaliado em US$ 9,7 milhões (cerca de R$ 54,2 milhões), que seriam enviados a países de baixa renda. A medida, revelada pelo jornal The Guardian em 18 de julho, provocou forte reação de ONGs, entidades feministas, parlamentares e diplomatas, que acusam Washington de coerção reprodutiva e desperdício de recursos essenciais à saúde feminina.
Os contraceptivos, principalmente DIUs e implantes hormonais, estavam armazenados em Geel, na Bélgica, e devem ser incinerados até o fim de julho, na França. Segundo documentos internos, os produtos têm validade entre abril de 2027 e setembro de 2031, o que contraria a alegação de vencimento apresentada pelo governo.
Os itens foram adquiridos pela USAID durante o governo de Joe Biden e seriam distribuídos a mulheres, especialmente na África Subsaariana. A destruição, no entanto, se baseia na Política da Cidade do México, diretriz reinstaurada por Donald Trump e mantida em 2025, que proíbe financiamento de ONGs que promovam ou realizem o aborto, mesmo que os anticoncepcionais não sejam abortivos.
O custo estimado da incineração é de US$ 167 mil (R$ 934 mil).
Reações
ONGs como a MSI Reproductive Choices e a Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF) se ofereceram para reembalar e distribuir os contraceptivos sem custos, mas suas propostas foram rejeitadas. A IPPF classificou a decisão como “coerção reprodutiva intencional”.
Nos EUA, os senadores democratas Jeanne Shaheen e Brian Schatz apresentaram um projeto de lei para impedir a destruição. Enquanto isso, o governo da Bélgica busca alternativas diplomáticas para evitar a incineração e encontrar novos destinos para os materiais.
França pressionada a não ser “cúmplice”
Na França, onde a incineração está programada, o governo de Emmanuel Macron sofre pressão de ativistas e políticos. A presidente do Planning Familial, Sarah Durocher, criticou a cumplicidade francesa com a política americana. “Um governo que inscreve com orgulho o direito ao aborto na Constituição deve também proteger a contracepção e os direitos das meninas além de suas fronteiras”, declarou.
A presidência francesa foi procurada pela agência AFP, mas não se pronunciou até o momento.