Aos 70 anos, Elenice Pereira é prova viva de que nunca é tarde para recomeçar. Moradora de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, ela acaba de ingressar na faculdade de Pedagogia após uma vida marcada por desafios, superações e pausas nos estudos. “Desistir nunca fez parte do meu vocabulário”, afirma.
Filha de agricultores, nascida em Bom Jesus do Itabapoana e única mulher entre nove irmãos, Elenice trabalhou na roça ainda criança. Aos 16 anos, deixou a casa dos pais para ajudar no sustento da família. Os estudos foram interrompidos e retomados apenas aos 25, quando, incentivada por uma patroa, ingressou no antigo Mobral — programa federal de alfabetização de adultos.
Mesmo com a nova chance, a vida exigiu mais pausas: casamento, maternidade e a necessidade de trabalhar como faxineira por quase quatro décadas. A prioridade virou a educação do filho, hoje engenheiro. Só anos mais tarde, ao enfrentar uma depressão, voltou a se aproximar da escola. “Chegava em casa feliz depois das aulas. Isso foi me curando aos poucos”, relembra.
Ela precisou refazer o ensino médio e enfrentou um cursinho preparatório para o Enem no Instituto Federal Fluminense. Em 2025, veio a tão sonhada aprovação. Matriculada na Estácio, onde estuda enquanto tenta uma vaga pelo Sisu, Elenice exibe com orgulho o certificado de caloura ao lado dos colegas — a maioria com idade para ser seus netos.
A aposentada, que vive com um salário mínimo e bancou as primeiras mensalidades com economias da poupança, não pretende parar. “Daqui para frente, não sei como vou fazer, mas não penso em desistir.”
Além de concluir o curso, ela já tem planos futuros: pretende dar aulas, especialmente para crianças carentes e adultos em busca de alfabetização. “Mesmo que não passe em concurso, quero retribuir tudo o que recebi.”
Para o professor Edmar Santos do Rosário, do Curso Preparatório Popular Goitacá, onde Elenice estudou, sua trajetória é uma lição. “Ela inspirava a turma inteira com sua presença, sentada sempre na primeira carteira e sem faltar um dia.”