O marchand e cronista Dimitri Ganzelevitch, nascido em Rabat, no Marrocos, e radicado em Salvador desde 1975, comemora cinco décadas de vida na capital baiana com o lançamento do livro Minha Vida de Jasmim. A obra reúne crônicas já publicadas em jornais como A Tarde e Gazeta Mercantil, além de textos inéditos. Aos 89 anos, ele celebra a ocasião com um evento marcado para o dia 26 de julho (sábado), às 16h, no Solar Santo Antônio — residência onde vive desde os anos 1980 e que, agora, se despede após a venda do imóvel.
Aberta ao público, a cerimônia contará com uma encenação dirigida pelo cineasta Bernard Attal, com participação dos atores Rita Rocha, Igor Epifânio e Marcelo Flores. A escolha do Solar como palco do lançamento reforça o vínculo de Dimitri com o imóvel, que por décadas funcionou também como ponto de encontro de artistas e intelectuais.
“Essas crônicas têm um pouquinho de tudo, porque o ecletismo é uma característica minha. Sou eclético na culinária, na leitura, nos amigos… moro no Santo Antônio Além do Carmo, que é um bairro eclético, e vivi em diferentes países. Isso, então, se reflete no que eu escrevo. Mas não tenho pretensões literárias. Não sou nenhum Fernando Sabino, que admiro muito”, afirma Dimitri, com humor.
A coletânea traz relatos que misturam memórias pessoais e observações culturais. Entre os textos está “Minhas Infâncias”, crônica que entrelaça ficção e realidade, além de “Um Domingo de Tarde em Casablanca”, em que narra a experiência de assistir, aos 13 anos, a uma apresentação da companhia de dança de Katherine Dunham.
“O choque seria determinante para muitas das minhas opções culturais e até políticas. Fiquei deslumbrado, atônito, mareado pela beleza do espetáculo, suas músicas e ritmos, a estética força dos corpos suados, pois era inevitável o impacto sensual do espetáculo sobre um rapaz em pleno desenvolvimento intelectual e físico”, analisa.
O livro também resgata episódios com figuras históricas e personalidades do mundo artístico e político, como o maestro Yehudi Menuhin, o pianista Igor Stravinsky, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, a fadista Amália Rodrigues e até sultanas do antigo Império Otomano.
Embora escreva em português — idioma que não é sua língua nativa —, Dimitri impressiona pela fluência e estilo leve. Ele credita isso ao hábito de leitura e ao gosto pelo desafio linguístico.
“Sempre li muito em várias línguas, inclusive em português, autores como Eça de Queiroz e Machado de Assis, gosto muito deles. E curto o desafio de escrever em uma língua que não domino completamente. Português é uma língua belíssima! Às vezes, descubro uma palavra e digo: tenho que usar isso”, conta, entre risos.
De Rabat a Salvador
Dimitri passou por diversos países europeus — como França, Espanha, Portugal e Inglaterra — antes de fixar residência em Salvador, em meio às mudanças políticas provocadas pela Revolução dos Cravos, em Portugal, em 1974. Já familiarizado com a capital baiana, onde havia estado outras vezes e conhecido nomes como Jorge Amado e Carybé, escolheu a cidade para viver.
Nos anos seguintes, atuou como galerista e apoiador de novos talentos nas artes visuais, entre eles Bel Borba, Vauluizo Bezerra e Reinaldo Eckenberger. Com o tempo, transformou o Solar Santo Antônio em um espaço de efervescência cultural, promovendo eventos, encontros e apresentações — inclusive em um palco construído no jardim da casa.
Também se aventurou nas artes cênicas, participando de filmes dirigidos por Bernard Attal e Claudio Marques, além de ter atuado em peças de rua com o diretor Ray Alves.