Aos 40 anos, Erasmo Viana decidiu abrir um capítulo delicado da própria vida nas redes sociais. Conhecido por compartilhar rotinas de treino, viagens e momentos do dia a dia com seus mais de 2 milhões de seguidores, o influenciador baiano usou seu perfil esta semana para falar de algo que vai além da estética ou da performance física: o processo de superação de vícios em maconha e pornografia.
Em um longo relato postado por ele em seu perfil, com mais quase 400 mil visualizações, Eramo colocou luz sobre o assunto que, em sua própria definição, foi “o vídeo mais importante” que já gravou.
“Já estou muito bem resolvido com esse assunto e, também, sinto a responsabilidade de trazer algo positivo para as pessoas. Visto que as redes sociais se tornaram cada vez mais superficiais, mais egocêntricas. E, depois de um certo tempo, até com a maturidade, me senti no dever de compartilhar algo que sei que algumas pessoas podem estar passando. Elas também podem se curar através do que eu falei, de atividade física, através da conexão com Deus”, diz Erasmo, em entrevista exclusiva ao gshow.
Segundo o influenciador, o processo de abandonar os vícios teve seus altos e baixos, sendo o uso da maconha o mais difícil de superar.
“E o mais difícil [vício de abandonar] foi a maconha. Sempre esteve associada a dormir, sempre usava quando estava prestes a dormir. E achava que não conseguiria [parar de usar], por ter insônia”, relembra.
E completa: “Principalmente, também, pelo fato de não conseguir lembrar dos meus sonhos. A partir do momento que comecei a ler a Bíblia e vi que Deus se comunicou com várias pessoas através dos sonhos, pensei: ‘Cara, quem sabe um dia eu possa falar com Ele, Ele possa me dar uma mensagem’. Mas se eu continuasse com esse tipo de hábito, nunca conseguiria me lembrar”.
Porta de entrada
O início do uso da maconha, ainda segundo Erasmo, aconteceu na juventude, em um contexto influenciado pelas amizades e pelos ambientes que frequentava. O hábito, que começou de forma esporádica, passou a ganhar espaço na rotina com o passar do tempo.
“O principal gatilho foram as amizades, o ambiente onde eu vivia. Comecei aos 20 anos, fazendo uso esporádico. Também usava de uma forma mais intensa nos finais de semana ou, às vezes, até durante a semana, quando precisava curar um pouco a minha ansiedade. Percebi que estava muito dependente, inclusive correndo situações de risco, até por portar algo proibido. Muitas coisas pesaram nessa decisão”, confidencia.
Depois de um vício, outro
Além da maconha, Erasmo também enfrentou outro vício: o consumo de pornografia. A decisão de mudar, segundo ele, veio com a percepção de que esses hábitos estavam em desacordo com o estilo de vida que buscava construir.
“Hoje, com 40 anos, depois de muito tempo consumindo tanto a pornografia quanto a maconha, não me sentia independente das minhas emoções. Sentia que era totalmente vulnerável a ter esse tipo de prazer. E por ser uma pessoa que sempre buscou o autocontrole a vida toda, achava que não era coerente com a vida que queria levar”, explica.
“Depois de um certo tempo, criando essa maturidade, sabendo onde quero chegar, essas coisas não poderiam fazer mais parte. Tive que assumir as rédeas das minhas emoções, dos meus hábitos, dos meus desejos. E, desde então, comecei essa luta, que também não é muito fácil. Mas sabia que tinha algo a meu favor, principalmente por ser uma pessoa saudável, que sempre treinou, que sempre teve essa vida ligada ao esporte”
— Erasmo Viana
O influenciador contou que o vício em pornografia começou ainda na adolescência, impulsionado pela facilidade de acesso através da internet. Com o tempo, o hábito foi se intensificando e, segundo ele, se tornando parte da rotina de forma quase imperceptível.
“Fui um adolescente que gostava muito de ver vídeos. E depois, na fase adulta, por ter vários relacionamentos, e acho que o uso do celular também, acabou despertando muito essa facilidade de acessar. Cada vez mais isso ia aumentando e chega uma hora que a gente acha que é super normal. Hoje em dia as pessoas não comentam muito isso, porque acham que é normal o excesso de masturbação, de sexo, de procurar novos relacionamentos, de filmar. Tudo isso acaba sendo normalizado e quando você cai na realidade, você vê que você está preso nisso”.
Conteúdo adulto
Filmar, inclusive, virou um ofício que Erasmo passou a exercer no ambiente online. Ele chegou a criar um perfil em uma plataforma paga, voltada exclusivamente para assinantes. Dos conteúdos adultos e, por vezes, explícitos, ele garante que se envergonha.
“Produzir conteúdo adulto é a maior vergonha que tenho na minha vida. Hoje, encaro isso de uma forma ainda muito difícil de aceitar, mas já tenho muito mais maturidade para poder falar. Depois de algumas sessões de terapia, de busca espiritual, eu via o quanto era realmente dependente de conteúdos. E isso acaba normalizando, porque quando você vive isso de uma forma muito intensa, você acaba normalizando esse tipo de atitude, de exposição.”
Apesar do desconforto ao relembrar esse período, Erasmo reconhece que a decisão de produzir conteúdo adulto também foi influenciada por questões financeiras. Ele relata que, ao conciliar o trabalho como modelo com a dependência emocional e sexual que enfrentava, acabou mergulhando ainda mais nesse ciclo.
“Associando tanto o trabalho de modelo quanto a essa dependência de sexo e de masturbação, você acaba criando uma normalidade, que não é normal. E, ao mesmo tempo, a parte financeira é muito convidativa”, revela.
“Não fiquei rico, mas realmente foi algo que eu fiz por conta disso também. Não tem como negar que foi algo que me gerou alguns valores bem altos. Mas sempre tive condições boas, venho de uma família boa. Nunca me faltou nada, muito pelo contrário, sou uma pessoa privilegiada. Não precisei de nada disso para ficar rico. As pessoas falam que comprei mansão, um monte de coisa, tudo mentira. Sempre tive boas condições. Isso nunca foi o diferencial para mim.”
Redenção e conforto espiritual
Ao perceber o impacto que esses comportamentos tinham em sua vida, Erasmo decidiu que era o momento de buscar apoio profissional. A jornada até encontrar o acompanhamento ideal, no entanto, também exigiu paciência e persistência.
“Procurei ajuda profissional. Sempre tive dificuldade de achar um terapeuta que me identificasse, que pudesse permanecer e que pudesse acessar de uma forma muito específica para mim. No meu caso, pudesse acessar essas minhas emoções e pudesse trazer ferramentas”, contou.
Além do apoio profissional, Erasmo conta que encontrou força no desenvolvimento da sua espiritualidade, que sempre esteve presente em sua vida, ainda que de forma não linear.
“Sempre fui uma pessoa que buscou espiritualidade, não só através da religião, mas através das minhas ações. Vim de uma família católica. Cheguei a frequentar a igreja durante um tempo, mas não me conectava da forma que achava que existia Deus. Rezava de uma forma muito superficial. Essa espiritualidade foi sendo desenvolvida ao longo do tempo e, ultimamente, depois dos meus anos de experiência, de vivência com várias religiões, com vários rituais, que buscava uma conexão muito mais íntima com Deus e não encontrava”, explica.
A virada, segundo ele, aconteceu quando passou a buscar no conhecimento bíblico um ponto de referência que dialogasse com sua racionalidade e sua necessidade de proximidade com Deus.
“E foi a partir do momento que comecei a buscar o conhecimento através da Bíblia, principalmente da figura de Jesus Cristo, porque eu era uma pessoa muito racional, sempre foi uma pessoa muito racional e eu precisava de uma figura humana que pudesse ser o meu mentor, que pudesse trazer uma realidade em relação à espiritualidade mais próxima de nós. Essa busca ficou cada vez mais constante e através do conhecimento bíblico eu, de fato, consegui me conectar com Deus através de Jesus Cristo.”
E, ao falar sobre a decisão de expor publicamente suas experiências, Erasmo ressalta que o movimento partiu de um lugar de segurança e autoconhecimento.
“Não tive medo nenhum, muito pelo contrário. Sou tão bem resolvido comigo mesmo que foi exatamente por isso que resolvi trazer à tona todas essas minhas questões. Poderia muito bem ficar calado e ter minha vida normal. Tenho o meu trabalho, uma família maravilhosa. Tenho um alicerce muito bem pavimentado que me dá toda essa base, toda essa confiança e coragem para assumir o meu passado”, garante.
Para ele, assumir todas as decisões que tomou ao longo da vida (e viveu) é uma forma de libertação e transformação, reforçada pela sua fé: “E quando a gente assume o passado, deixa ele de lado e ressignifica muita coisa. Isso mostra, cada vez mais, essa minha conexão com Deus e quanto Ele tem agido na minha vida. E em nenhum momento me preocupei em relação a isso, sempre pensando em poder contribuir para as pessoas que estão passando por esse tipo de situação.”