Já foi símbolo de status, patrimônio declarado no Imposto de Renda e item indispensável nos lares brasileiros. Hoje, o telefone fixo caminha para o desaparecimento. Em Salvador, o número de linhas ativas caiu 40% nos últimos cinco anos, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Entre 2019 e 2024, cerca de 230 mil pessoas deixaram de usar telefone fixo na capital baiana. Nesse período, o total de linhas caiu de 552.588 para 343.002. Os dados são os mais recentes divulgados pela agência reguladora.
Enquanto isso, a telefonia móvel segue em alta. Em 2023, Salvador registrava 3,9 milhões de linhas móveis ativas, 11 vezes mais do que as linhas fixas. Para o especialista em telecomunicações Orlamilton Melo, em entrevista ao jornal Correio, esse cenário não só tende a se manter, como a se acentuar nos próximos anos.
“Antigamente, ao comprar uma linha, a pessoa recebia ações das empresas, já que havia cotas de ações que poderiam ser vendidas na Bolsa de Valores. Eu mesmo tive amigos que venderam as ações e compraram carro. Com a chegada do celular, as coisas começaram a mudar até o ponto de baratear e ficar acessível para todo mundo. Hoje, existem mais celulares do que pessoas. Por isso, acredito que num espaço bem curto de tempo não teremos mais telefone fixo”, afirma.
Em 2025, o serviço enfrenta mais um obstáculo, com a chegada ao fim da concessão das operadoras que venceram os leilões de 1998, durante a privatização do sistema Telebrás. Com isso, as empresas deixam de ser obrigadas a oferecer o serviço de telefonia fixa, o que, segundo Melo, pode representar alívio financeiro para muitas delas.
“A telefonia fixa era através de cabos metálicos, mas hoje dados e voz caminham juntos através da fibra óptica. Então, a telefonia fixa tem sido dispensável, porque o custo ficou alto até para as empresas manterem. Os cabos metálicos são mais caros que as fibras e ainda submetem essas corporações a prejuízos por conta do alto volume de roubos”, explica.
Ele acrescenta que muitas operadoras já desativaram centrais de atendimento voltadas ao telefone fixo e removeram boa parte dos cabos metálicos. “Só com a telefonia fixa, as empresas não conseguem se manter”, resume.
Em nota enviada ao Correio, a Anatel afirma que, mesmo com o fim das concessões, mais de 1.400 empresas seguem habilitadas a oferecer o serviço sob regime de autorização. “[Isso] demonstra que o serviço não será extinto de imediato”, garante a agência.
Sobre a possibilidade de desligamento definitivo da telefonia fixa, a Anatel esclarece que, até o momento, não há qualquer projeto nesse sentido. “Apesar da redução no número de linhas instaladas, a telefonia fixa ainda é demandada por segmentos específicos, como empresas, clientes em localidades sem cobertura móvel adequada e usuários de serviços de emergência via orelhão”, afirma.