Responsável por alimentar as delegações presentes na cúpula do Brics, que aconteceu até esta segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, o chef Rafa Costa e Silva, à frente do Lasai, duas estrelas Michelin e único restaurante brasileiro na lista dos melhores do mundo em 2025, comandou uma complexa operação de alimentação que uniu excelência gastronômica, segurança e criatividade, além de um pouco de Bahia.
Foram cerca de 1.200 refeições diárias, servidas em elegantes bandejas individuais de madeira brasileira, com louças finas e taças de cristal, consumidas em meio às conversas entre líderes e suas comitivas. Todos os pratos foram preparados na cozinha do Lasai, em Botafogo, sob vigilância constante de agentes sanitários e seguranças. “Quando ainda havia a chance de o presidente Vladimir Putin vir, a tensão aumentou. Provaram tudo, até as torradinhas”, relembrou o chef à Veja.

Menu foi assinado pelo premiado Rafa Costa e Silva, do Lasai | Foto: Divulgação
No sábado (5), os pratos foram lacrados e transportados em caminhonetes refrigeradas até o Museu de Arte Moderna (MAM), onde seriam finalizados. O espaço, no entanto, não oferecia estrutura pronta, já que o antigo restaurante Laguiole, que funcionava no local, estava vazio. “Precisamos montar uma cozinha do zero, até máquina de lavar pratos foi alugada”, conta Rafa.
O menu ofereceu duas opções por bandeja, entre carnes, peixes, sopas e saladas. No domingo (6), por exemplo, os convidados escolheram entre peixe ao molho beurre blanc com palmito grelhado e brócolis, ou costela de vitelo com canjiquinha gratinada ao queijo meia-cura. A sobremesa foi uma pannacotta de leite de castanha com frutas frescas brasileiras. No café da manhã, bolinhos de milho, laranja e aipim completaram a experiência.

Cordel, produzido na Chapada Diamantina, esteve na seleção de vinhos
A harmonização foi inteiramente composta por vinhos nacionais, selecionados pela sommelière do Lasai, Maíra Freire. Entre os rótulos escolhidos, destaque para o vinho tinto Cordel, da Vinícola Uvva, da Chapada Diamantina (BA). Lançado em 2019, o Cordel evoluiu para um corte com predominância de syrah (65%), seguido por cabernet sauvignon (22%), merlot (12%) e malbec (1%), consolidando seu perfil maduro, elegante e com grande potencial de guarda. O vinho já conquistou 91 pontos no Guia Descorchados.
Entre as curiosidades dos bastidores, um membro da comitiva brasileira solicitou que todas as suas bebidas fossem servidas em um copo muito específico, com bojo largo e haste curta. O item foi encontrado em uma loja Casa & Vídeo, segundo Malena Cardiel, esposa e parceira do chef. “Segredo de Estado”, brinca Rafa ao não revelar o nome do autor da exigência. “Mas posso dizer que os brasileiros deram mais trabalho que os estrangeiros”, confidenciou.
Para garantir precisão e sincronia no serviço, os garçons passaram por um treinamento de quatro horas, com objetivo de entregar todas as bandejas simultaneamente no salão, sem comprometer o andamento das negociações. O resultado foi um serviço impecável que colocou a gastronomia brasileira, da alta cozinha à produção vinícola baiana, em evidência diante dos olhos do mundo.