Indígenas da etnia Tupinambá, da cidade de Ilhéus, no sul da Bahia, estiveram no Rio de Janeiro para protestar e reivindicar a devolução do Manto Sagrado Tupinambá, artefato recuperado pelo Brasil em 2024, ao solo baiano. O grupo, oriundo do distrito de Olivença, luta pelo retorno do objeto, considerado parte essencial da história de sua etnia e retirado da região em tempos coloniais.
O artefato estava na Dinamarca, onde permanecia exposto no Museu Nacional daquele país. Em 2024, o governo dinamarquês doou o manto ao Brasil para colaborar com a recomposição do acervo do Museu Nacional, destruído pelo incêndio de 2018 e reaberto temporariamente nesta quarta-feira (2).
Durante o protesto, os Tupinambá realizaram uma vigília atrás da biblioteca do Museu Nacional, onde o manto estava armazenado, desde a madrugada da quinta-feira (3) até esta sexta-feira (4), data que marcou o primeiro aniversário da repatriação do artefato ao Brasil.
Acolhidos no Instituto Cultural Unicirco, os indígenas promoveram, desde a segunda-feira (30), uma série de diálogos, palestras e rituais. A mobilização contou com o apoio de parceiros, como o ator e apresentador Klebber Toledo, e reforçou a importância simbólica e espiritual do manto para o povo Tupinambá.
Considerado uma entidade sagrada, o manto é visto como um verdadeiro “patrono” por seu povo, que guarda, pela oralidade, a memória de seu roubo. Segundo representantes da etnia, o artefato foi retirado de um baú de couro que ficava na igreja Nossa Senhora da Escada, construída com mão de obra indígena escravizada, em um antigo assentamento jesuíta.
Apesar de a cacica Jamopoty, do povo Tupinambá de Olivença, ter participado da cerimônia oficial de repatriação do manto em setembro de 2024, os indígenas do sul da Bahia afirmaram ter sido excluídos das discussões sobre o destino do artefato. A cerimônia aconteceu na sede do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do governador baiano Jerônimo Rodrigues (PT), que se declara indígena.
O último encontro entre representantes do povo Tupinambá de Olivença e o governo havia ocorrido em março de 2025, mas focado na demarcação territorial da etnia. Mesmo com a terra já demarcada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o processo de oficialização ainda não foi concluído, o que levou o grupo a denunciar o silenciamento sobre questões essenciais à sua identidade e memória histórica.
Além da devolução do Manto Sagrado, o povo Tupinambá de Olivença também reivindicou o retorno de outros dez mantos ainda mantidos na Europa. O plano é construir um espaço na cidade de Ilhéus onde esses artefatos, tratados como verdadeiros anciãos, possam ser acolhidos e protegidos.