A disputa judicial entre Murilo Huff e Ruth Moreira, mãe da saudosa cantora Marília Mendonça (1995–2021), pela guarda do pequeno Leo, reacendeu o alerta sobre os efeitos emocionais que um processo como esse pode causar em uma criança. Com cinco anos, o menino vive com a avó desde a trágica morte da mãe, e agora vê o pai buscar na Justiça a guarda unilateral, mesmo com o atual regime de guarda compartilhada e convivência próxima.
Em entrevista à CARAS Brasil, a psicóloga Leticia de Oliveira analisa o cenário com atenção redobrada para os possíveis reflexos emocionais na infância. “A criança sente que tem alguma coisa no ar e sofre sem saber por quê”, afirma a especialista.
Quais sinais mostram que a criança está sofrendo?
Segundo Leticia, os adultos precisam estar atentos a mudanças sutis, mas significativas no comportamento: “Sinais de sofrimento que a gente pode observar: mudança de comportamento habitual, a criança começa a fazer xixi na cama, volta a querer chupeta. Então, você vê que tem alguma coisa diferente, que está errada, que não faz parte do habitual da criança”, alerta.
Além disso, alterações emocionais mais intensas também devem ser levadas a sério: “Oscilação de humor é mais frequente. Claro que a criança está aprendendo a se regular emocionalmente, mas uma oscilação muito forte, uma raiva que vem do nada, crises de choro do nada. Problemas de sono e alimentação, comer demais, mudança de paladar, dormir pouco, dormir demais, acordar no meio da madrugada”, completa.
Outro ponto de atenção está nas relações sociais: “Dificuldade de interação social, mudança no vínculo da criança com outras pessoas. Isso pode ser observado na escola, por exemplo. Maior expressão verbal de medo, culpa, rejeição, frases como: ‘meu amiguinho não quer mais ser meu amigo’, ‘a professora não gosta de mim’, que espelham o que está acontecendo”, observa.
Por fim, queixas físicas sem origem médica também podem ser indicativos: “A criança diz que está com muita dor de barriga, mas ao levá-la ao médico e fazer exames, não se encontra nada. O mesmo com dor de cabeça. Então, de alguma maneira, ela está expressando o sofrimento”, explica a psicóloga.
Como proteger o bem-estar psicológico da criança?
Leticia destaca que o ambiente em que a criança está inserida durante a disputa pode influenciar diretamente em seu bem-estar: “Os adultos podem evitar expor a criança ao conflito, evitar falar mal do outro responsável, evitar difamar, fazer críticas. Evitar também fazer da criança um mensageiro, como dizer: ‘fala para sua avó isso’, ou ‘fala para o seu pai aquilo’, ‘fala que ele tem que cuidar do dente também’”, afirma.
O cuidado emocional começa pelo acolhimento: “É importante garantir uma escuta ativa, em que a criança tenha espaço para falar, para ser validada. Reafirmar amor: dizer ‘eu te amo’, ‘você é minha prioridade’, ‘vou estar sempre aqui’. Falar, verbalizar isso para a criança é muito importante”, defende.
Estabilidade também é essencial: “Tentar manter a rotina o mais estável possível, as atividades físicas, a escola, para que ela tenha essa fonte de segurança. Ser honesto na medida do possível. Claro, cada idade tem suas adequações, mas é importante que a criança tenha acesso à informação.”
E um alerta importante fecha a análise da especialista: “Tem muita gente que acredita que poupar a criança é melhor, mas a criança sente que tem alguma coisa no ar e sofre sem saber por quê. E buscar apoio profissional, tanto para a criança quanto para os responsáveis é fundamental”, finaliza.