O número de acidentes aéreos fatais no Brasil tem crescido, reforçando a percepção de insegurança entre passageiros e profissionais da aviação. Segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), foram registrados 389 acidentes com vítimas fatais nos últimos 10 anos, sendo a perda de controle em voo a principal causa.
Em 2024, o país alcançou o maior número em oito anos: 44 acidentes fatais. Na Bahia, foram 58 ocorrências desde 2015, com 11 mortes, geralmente associadas a falhas no motor e perda de controle.
Apesar dos avanços tecnológicos, a segurança continua dependendo de decisões humanas. “Muitas vezes, o acidente já se configura no planejamento. O avião nem decolou, mas ele já está indo para um acidente”, alerta Aroldo Soares, professor de Aviação Civil e Mestre em Segurança de Voo, com mais de três décadas de experiência. Erros operacionais, manutenção precária, treinamentos insuficientes e decisões sob pressão estão entre os principais fatores de risco.
A qualidade da manutenção é essencial, mas, no Brasil, práticas como o uso de peças sem procedência, oficinas irregulares e cortes de custo comprometem a segurança. Segundo Soares, em entrevista ao Metro1, a fiscalização é falha e permite que essas situações continuem colocando em risco a vida de passageiros e tripulantes.
Atribuir a culpa exclusivamente a pilotos e controladores ignora falhas estruturais do sistema. A segurança depende de uma cadeia integrada, que vai do planejamento à fiscalização. “As investigações devem focar na prevenção, garantindo que medidas corretivas sejam aplicadas para evitar novas tragédias”, afirma Soares.
A meteorologia também é um fator relevante. Tempestades, neblina e turbulência representam riscos significativos, contribuindo para cerca de 22% dos acidentes, de acordo com Hiremar Soares, professor de meteorologia aeronáutica. Ele destaca ainda o impacto de fenômenos como El Niño e La Niña, que, embora originados no Pacífico, afetam diretamente as condições de voo no Brasil.
Mesmo com o reconhecimento internacional em tecnologia e regulamentação, o setor aéreo brasileiro ainda precisa ampliar os investimentos em prevenção. A formação de profissionais também é um ponto crítico. “Uma formação 100% a distância é problemática, pois a aviação exige respostas imediatas”, afirma Soares, reforçando a importância de treinamentos presenciais e contínuos para garantir a segurança no setor.