Achado inédito em Salvador revela ossadas no maior cemitério de escravizados da América Latina

Achado inédito em Salvador revela ossadas no maior cemitério de escravizados da América Latina

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Tiago Mascarenhas

Victoria Nasck/Divulgação

Publicado em 26/05/2025 às 21:17 / Leia em 2 minutos

Pesquisadores localizaram as primeiras ossadas humanas no antigo cemitério de escravizados do Campo da Pólvora, em Salvador. O local estava encoberto há quase dois séculos e hoje funciona como estacionamento do Complexo da Pupileira, no bairro de Nazaré. A descoberta foi anunciada durante coletiva realizada na sede do Ministério Público da Bahia, nesta segunda-feira (26).

Coordenado pela arqueóloga Jeanne Dias, o projeto identificou ossos largos e dentes enterrados a cerca de 2,5 metros de profundidade, em solo úmido e ácido, o que comprometeu a preservação dos materiais.

As ossadas, ainda frágeis, passarão por tratamento de conservação. Embora nenhuma imagem tenha sido divulgada, a equipe considera o material um patrimônio sensível de grande valor histórico e simbólico.

As escavações começaram em 14 de fevereiro deste ano, coincidindo com os 190 anos da Revolta dos Malês. Dois dias depois, surgiram os primeiros fragmentos. A expectativa é de que os corpos de mártires da Revolta dos Malês, da Revolta dos Búzios (1798) e da Revolução Pernambucana (1817) estejam entre os enterrados no local.

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

A existência do cemitério foi confirmada após pesquisa de doutorado da arquiteta e urbanista Silvana Olivieri, da Universidade Federal da Bahia. A partir de mapas do século 18, documentos históricos e registros da Santa Casa de Misericórdia, a pesquisadora mapeou a área, esquecida pela cidade desde o fim das atividades em 1844.

Segundo ela, os sepultamentos eram realizados em valas comuns, sem cerimônias ou estrutura mínima, e incluíam não apenas escravizados africanos, mas também indígenas, ciganos e pessoas pobres que não podiam pagar pelo enterro.

O cemitério funcionou por mais de 150 anos, sob administração da Câmara Municipal e, posteriormente, da Santa Casa. A própria Santa Casa foi informada da redescoberta do local em 2024, mas não respondeu aos contatos.

Foto: Silvana Olivieri

Foto: Silvana Olivieri

A intervenção arqueológica só teve início após articulação entre Silvana, o professor de Direito da Ufba Samuel Vida e o Ministério Público da Bahia, que mediou o processo de conciliação e liberou as escavações em março.

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