São Jorge é Ogum? Entenda a ligação entre o santo católico e o orixá do candomblé

São Jorge é Ogum? Entenda a ligação entre o santo católico e o orixá do candomblé

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Surenã Dias

Imagem ilustrativa

Publicado em 23/04/2025 às 15:23 / Leia em 3 minutos

Celebrado em 23 de abril, São Jorge é um dos santos mais populares do Brasil. A data, que é feriado em diversos estados como no Rio de Janeiro, também marca uma das expressões mais populares do sincretismo religioso: a associação entre o santo católico e Ogum, orixá das religiões de matriz africana.

A ligação entre os dois vem de uma história marcada por resistência. Durante o período da escravidão, negros africanos eram proibidos pela coroa portuguesa de praticar seus cultos tradicionais. Como forma de manter viva sua espiritualidade, eles passaram a associar seus orixás aos santos católicos, criando o sincretismo religioso (prática que mistura símbolos e crenças das duas tradições).

Na Bahia, esse movimento ganhou força durante os anos e se tornou uma das marcas mais fortes da identidade cultural do estado. Por isso, ainda hoje é comum ver devotos celebrando São Jorge e Ogum no mesmo altar, com orações e oferendas que misturam rituais das duas religiões.

Mas afinal, por que São Jorge é sincretizado com Ogum?

A resposta está na simbologia: ambos são vistos como figuras guerreiras, associadas à proteção e à luta contra o mal. No catolicismo, São Jorge é retratado como um soldado que enfrentou um dragão. Já Ogum é o orixá da guerra, do ferro e da tecnologia.

Apesar da força dessa tradição, muitos estudiosos e praticantes de religiões afro-brasileiras têm refletido sobre o futuro do sincretismo. Para a socióloga Flávia Pinto, é hora de repensar essas associações.

“Para nós do candomblé e da umbanda, já temos consciência hoje que São Jorge não é Ogum. Por um motivo histórico e cronológico. São Jorge existiu na Capadócia há dois mil anos. Já Ogum existe há mais de 10 mil anos na cidade de Ire, na Nigéria. Naturalmente, São Jorge é um filho pródigo de Ogum, mas não é o próprio Ogum”, disse ela, que também mãe de santo e matriarca da Casa do Perdão, em entrevista à Agência Brasil.

“A aceitação de um santo católico é mais palatável porque a gente tem uma dominação euro-cristã em nosso processo de socialização chamado de colonização. Não podemos chamar de maneira romântica um comportamento genocida e torturador, que foi a imposição da fé de um povo dominador sobre outro povos, que tinham as próprias religiosidades, como os indígenas e os africanos. Mas, ainda assim, a sabedoria milenar desses povos foi tamanha, que conseguimos estudar minimamente a história daquele santo e associar ele aos nossos orixás”, completou a socióloga.

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