Enquanto muitos associam a Páscoa apenas aos ovos e às barras nas prateleiras, Josiane Luz lembra que chocolate também pode ser símbolo de cultura, afeto e transformação. À frente da Luzz Cacau, a baiana que saiu do interior da Bahia está ganhando o mundo com um dos melhores chocolates artesanais da atualidade. Sua barra ao leite 52% foi eleita a segunda melhor do mundo pela International Chocolate Awards, de Nova York, e, ao todo, já são mais de 8 prêmios, colecionando reconhecimentos na Inglaterra, Itália e Portugal.
No último Salão do Chocolate de Paris, ano passado, por exemplo, Josiane chegou sem uma barra sequer para vender. Motivo: todas as 900 que levou para a temporada europeia se esgotaram em apenas três dias, durante o Chocolat Festival Portugal, em Vila Nova de Gaia. Um feito e tanto para quem, na infância, não ganhava nenhum chocolate na Páscoa, apesar de o pai ser cacauicultor.
Segundo ela, o dinheiro da família mal dava para os itens essenciais, o que motivou sua partida de Iguaí, no sul da Bahia, aos 17 anos, atrás de oportunidades em São Paulo. Anos depois, durante uma viagem a Madri, na Espanha, enquanto trabalhava como gerente comercial em uma indústria de cosméticos, a Bahia voltou a fazer parte dos seus planos.
Ao entrar em uma loja procurando chocolates suíços e belgas, se viu saindo com duas barras brasileiras nas mãos e uma missão na cabeça: voltar ao Brasil, mergulhar no universo do cacau fino e incentivar o pai a mudar o cultivo. Resultado: pouco tempo depois, a família se tornava pioneira nesse tipo de produção na região, com o dobro do faturamento.
Josiane Luz e o pai | Foto: Divulgação/Luzz Cacau
“Cada vez mais as mulheres ganham protagonismo no mundo do cacau e do chocolate. A Josiane é uma dessas expoentes. Ela tem muita energia e criatividade no que faz. O resultado é um produto incrível”, afirma Marco Lessa, idealizador do Chocolat Festival, que teve sua edição baiana na última semana, em entrevista ao jornal O Globo.
Hoje, ela não só produz o próprio chocolate como desenvolve receitas autorais, como a barra de chocolate branco com doce de leite e coco, um dos carros-chefes da marca. A Luzz Cacau já conta com nove sabores, mas Josiane quer ir além. Até 2026, espera chegar a 36 produtos e abrir uma loja-conceito com bistrô, com o sonho de transformar a marca em franquia.
Apesar da ambição, ela não deixou de lado a mentalidade de que sua marca não vendo apenas chocolate. “A barra é só um meio pelo qual entrego saúde, sustentabilidade, cultura…”, reflete em entrevista a O Globo. E isso se vê nas embalagens ilustradas com cordéis e referências à cultura nordestina, como um burro de carga. “Sofri muito preconceito quando cheguei em São Paulo. Ouvi que precisava melhorar o meu sotaque. A ideia de valorizar a cultura nordestina nas embalagens vem daí. Tenho orgulho da minha terra. Eu não quero só vender uma barra de chocolate”, reforça.
Hoje, todas as funcionárias da fazenda e da fábrica da Luzz Cacau são mulheres com carteira assinada. E todas têm o compromisso de garantir seus filhos estudando. Segundo Josiane, transformar o mundo, assim como funciona com o cacau, começa pela base dos cidadãos que a sociedade forma.
