Quem já não se deparou com pixos e lambe lambes com a frase “Fim do Medo” espalhadas por Salvador? A série é assinada por Jamex, baiano do Nordeste de Amaralina, que viu sua arte emergir como remédio para expurgar os próprios demônios.
Atualmente com 23 anos, Emanuel de Assis Nepomunceno Silva, filho de costureira e vendedor, é o nome mais jovem a ter uma obra incluída no acervo permanente do Museu de Arte Moderna da Bahia e leva a cor da pele e sua origem simples e o que elas representam para seu trabalho.

Série fim do medo chamou atenção dos mais atentos na cidade | Foto: Reprodução Redes Sociais
“Na minha comunidade, era visto como um alvo. Em regiões nobres, era motivo de medo das pessoas. Fui bem criado, não faria mal a ninguém, não sou um monstro. Porque tinham medo de mim?”, questiona o artista, que, em entrevista ao jornal O Globo, disse que só aos 18 anos começou a entender o significado de seu corpo preto no mundo.
“Não passava perto de um carro parado com alguém dentro para não assustar os outros”, confessa o jovem, que transformou o apelido Jamelão em Jamex e se tornou artista, segundo ele, “para comunicar o que me incomoda no mundo e me comove, no mau e no bom sentido”.
Dando o que falar na cidade, a série “Fim do Medo” virou até filme, que será lançado na programação do XX Panorama Internacional Coisa de Cinema, em Salvador, no começo de abril. “Assim como todo mundo, fiquei intrigado com a frase, que sintetizava muita coisa”, explica o cineasta Ramon Coutinho, que rodou o filme “Jamex e o fim do medo”.

Jamex tem seus lambes como extensão de suas ideias | Foto: Reprodução/ Redes Sociais
A arte de Jamex
Sem muitas referências artísticas enquanto crescia, Jamex começou a publicar obras nas redes e os comentários começaram a chegar. “Não tinha técnica, mas eu ia me expressando”, conta o artista, que depois dos muros, levou sua expressão para madeiras e papelões que catava na rua, primeiro com tinta guache, depois tinta acrílica em telas.
Apesar de muito da sua revolta servir de base para sua expressão artística, Jamex, que é representado por Vitor Valery, da Vandal Arte, não se prende apenas ao que é negativo, apesar de igualmente importante em sua formação. Seu trabalho tem também muita referência positiva, como música e filme, como um quadro com a frase “Depois de ter você”, título de uma canção de Adriana Calcanhotto, que, até fevereiro, integrou a exposição “Raízes”, no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab).

Na parede de Pedro Tourinho, Jamex tem retratos de Gilberto Gil e Caetano Veloso expostos | Foto: Filippo Bamberghi/Casa Vogue
Ele já foi inspirado também pela arte da cantora Roberta Flack e pelo premiado filme “Ainda Estou Aqui” e teve suas homenagens a Gilberto Gil e Caetano Veloso destacadas em matéria da Casa Vogue sobre a casa do ex-secretário de Cultura de Salvador, Pedro Tourinho. Ele está em tudo!
Veja teaser do filme: