O excesso de peso se tornou um dos maiores desafios de saúde pública no Brasil e no mundo. Hoje, 31% da população brasileira vive nesta condição e 68% estão acima do que é considerado ideal, segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2025, divulgado pela Federação Mundial da Obesidade (WOF). Os números revelam um problema crônico que já impacta milhões de pessoas e sobrecarrega o sistema de saúde, aumentando o risco de doenças graves como diabetes tipo 2 e Acidente Vascular Cerebral (AVC), responsáveis por cerca de 60,9 mil mortes prematuras no país.
A situação tende a piorar nos próximos anos. As projeções indicam que, até 2030, o número de pessoas com excesso de peso pode crescer 33,4% entre os homens e 46,2% entre as mulheres. O cenário é preocupante e especialistas alertam que este cenário precisa ser tratado como prioridade. “Este deve ser uma prioridade não apenas para os indivíduos, mas para toda a sociedade. É fundamental que as pessoas busquem ajuda médica e adotem tratamentos adequados para controlar a condição, que pode levar a sérios problemas de saúde e impactar a qualidade de vida a longo prazo”, destaca o endocrinologista Cristiano Gidi Portella, Coordenador Técnico-Médico do Hospital da Obesidade.
Tratamento e desafios
O especialista reforça que, em março, mês dedicado ao combate à obesidade, é essencial redobrar a conscientização e destacar a importância de um tratamento contínuo e especializado, levando em consideração o quadro específico de cada pessoa.
“Aqueles que buscam internamento geralmente já tentaram diversas abordagens, mas sem o sucesso esperado e estão com obesidade severa e avançada. Alguns passaram por cirurgia bariátrica, mas recuperaram o peso perdido. Outros têm contraindicação para cirurgia ou tratamentos farmacológicos. Esses pacientes frequentemente enfrentam comorbidades, como limitações de locomoção e problemas psiquiátricos, como depressão e transtornos de ansiedade, o que dificulta ainda mais o tratamento”, explica o médico.
Mas é possível reverter o quadro. Um exemplo é Demétrio Barreto, de 36 anos, que, após enfrentar sérios problemas, procurou tratamento especializado no Hospital da Obesidade. Em 2016, pesava 190 quilos e decidiu dar início a um tratamento rigoroso na unidade de saúde em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS).
“Fui internado em 2016 e fiquei lá por sete meses. Mesmo depois de perder peso, continuo participando de manutenções mensais. A cada mês, passo quatro dias na unidade com uma equipe multidisciplinar, incluindo endocrinologista, nutricionista, psicólogo, ortopedista e fisioterapeutas”, relata Demétrio, que hoje está com 98 quilos.
Medidas coletivas
Além do tratamento individual, especialistas defendem políticas públicas para prevenir e conter a obesidade. Segundo o especialista, melhorar o acesso à alimentação saudável e incentivar a prática de exercícios físicos são medidas fundamentais. “O Brasil precisa investir em ações que tornem os hábitos saudáveis mais acessíveis. Isso inclui reduzir o preço de alimentos naturais, melhorar a infraestrutura urbana para caminhadas e incentivar a prática de atividades físicas”, explica.
Ele também destaca que a segurança pública e a estrutura das cidades influenciam diretamente a adoção de um estilo de vida mais ativo: “Criar espaços públicos para lazer e melhorar a iluminação das ruas são fatores que encorajam a população a se movimentar mais e a evitar o sedentarismo.”
No cenário global, a obesidade já afeta mais de 1 bilhão de pessoas e pode ultrapassar 1,5 bilhão até 2030 se medidas eficazes não forem implementadas. A condição está associada a 1,6 milhão de mortes por ano, superando os acidentes de trânsito. Em diversos países, estratégias como rotulagem nutricional mais clara, aumento de impostos sobre bebidas açucaradas e incentivos à prática de esportes têm sido adotadas para frear esse crescimento.
No Brasil, ainda que a alimentação seja menos prejudicial do que em outros países, o consumo de alimentos ultraprocessados está crescendo. “O tratamento vai além da perda de peso. É preciso promover saúde, qualidade de vida e prevenção de doenças crônicas. Nunca é tarde para buscar ajuda especializada”, reforça o coordenador o Coordenador Técnico-Médico do Hospital da Obesidade.