A maioria das igrejas, seminários e conventos católicos centenários de Salvador que enfrentam sérios problemas de conservação ficou de fora da lista de prédios históricos contemplados pelo Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Das oito intervenções previstas na capital baiana pelo programa, apenas o Convento de Santa Clara do Desterro foi incluído. A situação das igrejas se tornou ainda mais crítica após o desabamento parcial do teto da Igreja de São Francisco, no Pelourinho, no último dia 5, que resultou na morte de uma turista. Desde então, nove templos foram interditados por questões de segurança.
De acordo com o Iphan, o programa prevê 144 obras em edifícios tombados em todo o país e 105 projetos para recuperação de objetos artísticos sob a guarda do governo. No Nordeste, serão 45 ações, sendo 13 na Bahia. No total, 70 das 249 iniciativas — cerca de 28% — são voltadas para templos religiosos.
Salvador conta com aproximadamente 30 igrejas tombadas pelo Iphan, das quais 14 já passaram por vistorias do órgão. Oito delas necessitam de reparos urgentes. O Novo PAC prevê o investimento de R$ 771 milhões até 2026 para a preservação do patrimônio.
Após a inspeção realizada por técnicos do Iphan, foram interditadas as igrejas de Nossa Senhora da Boa Viagem, Nossa Senhora do Monte Serrat, Nossa Senhora da Ajuda, dos Perdões, Ordem Terceira do Carmo, São Miguel, São Bento, dos Quinze Mistérios e Santa Clara do Desterro. O coordenador da Comissão Arquidiocesana de Bens Culturais da Igreja, padre Edilson Bispo Conceição, destacou que a Arquidiocese de Salvador enfrenta dificuldades financeiras para manter as igrejas tombadas, um problema que se estende a todo o estado.
“É lamentável que apenas uma igreja tenha sido contemplada na nova fase do PAC. Não temos recursos suficientes e precisamos de apoio”, afirmou o padre, ao jornal O Globo, ressaltando que as igrejas de Nossa Senhora da Penha, Ordem Terceira do Carmo, Nossa Senhora da Boa Viagem e dos Quinze Mistérios estão entre as que mais preocupam.
A comissão coordenada por padre Edilson iniciará, em 8 de março, uma série de vistorias em igrejas e prédios católicos tombados para avaliar suas condições e definir prioridades para restauração. Além dos altos custos de manutenção, ele destaca outro entrave: a elaboração dos projetos de restauro, que são complexos e demorados. Segundo ele, há estudos iniciados há dois anos que ainda não foram concluídos devido às exigências técnicas do processo.
O professor da Universidade Federal da Bahia e doutor em Arquitetura e Urbanismo, Nivaldo Andrade Júnior, acredita que existem programas governamentais suficientes para a recuperação de bens tombados. No entanto, ele aponta a falta de contrapartida dos proprietários como um dos principais problemas.
Segundo o especialista, muitos dos edifícios que hoje se encontram em estado de degradação são particulares e já passaram por processos de restauração entre as décadas de 1970 e 2010. No entanto, não receberam a devida manutenção. “Os proprietários não realizam a conservação adequada, e isso leva à deterioração dos imóveis”, afirma, citando a Igreja Católica como exemplo.