As fitinhas do Senhor do Bonfim na decoração, os barquinhos de oferenda para Iemanjá, um painel retratando uma típica baiana. Quem entra no Dois de Fevereiro, no Rio de Janeiro, não tem como não se sentir em Salvador, cidade para a qual o restaurante acaba sendo uma declaração de amor do proprietário, o agitador cultural Raphael Vidal.

João Diamante assumiu cozinha há pouco mais de 6 meses | Foto: Reprodução/Redes Sociais
Para trazer ainda mais baianidade ao espaço, que fica na Pequena África, área abrangida pelos bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, na zona portuária do Rio, desde julho do ano passado, o comando da cozinha é do chef baiano João Diamante, radicado na capital fluminense.

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Após recusar alguns convites do empresário, foi após as gravações da série documental “Origens — Um chef brasileiro no Benin”, que ele topou assumir o restaurante. O chef teve a oportunidade de visitar o país africano, onde passou por pontos como a Porta do Não Retorno, um dos maiores portos de escravidão do mundo.

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“Depois destas experiências, topei assumir o Dois de Fevereiro. Precisava ajudar a ressignificar este lugar”, conta à revista Ela, do jornal O Globo. A viagem, segundo o baiano, mudou sua vida. “Minha missão aqui é fazer gastronomia afro-brasileira contemporânea, revivendo o passado no presente”, explica o chef, nascido em Salvador e criado no Andaraí.

Restaurante fica no Largo São Francisco da Prainha, na Pequena África | Foto: Reprodução/Redes Sociais
No restaurante, ele aposta em clássicos como o baião de dois, miniacarajés com caruru, vatapá e camarão e a tradicional feijoada, além de pratos com pitadas da sua criatividade, como a moqueca, que segundo ele “fala da Bahia, do Rio e da África”. O prato leva peixe, banana-da-terra, coco e gengibre e é um lembrete da ancestralidade do chef, que diz lidar com as dificuldades de ser um homem preto em um universo onde a grande maioria dos seus colegas são brancos e de origem em classes mais abastadas.

Os detalhes celebram a ligação com a Bahia | Foto: Reprodução/Redes Sociais
“Faço terapia para entender que posso ocupar qualquer lugar”, conta João, que comanda, desde 2016, o projeto de gastronomia social “Diamantes na Cozinha”, que já formou 400 jovens, e pelo qual já recebeu prêmios, como o Campeões da Mudança, do The World’s 50 Best Restaurants. “O projeto me permite devolver à sociedade as oportunidades que tive”, celebra.