Equador escolhe presidente neste domingo em meio a onda de violência

Equador escolhe presidente neste domingo em meio a onda de violência

Redação Alô Alô Bahia

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Agência Brasil

AFP

Publicado em 09/02/2025 às 10:40 / Leia em 5 minutos

Em meio a uma onda de violência, de apagões e de dificuldades econômicas, cerca de 11 milhões de equatorianos devem escolher, neste domingo (9), o presidente do país e os 151 parlamentares da Assembleia Nacional para o período de 2025 a 2029.

O atual presidente, Daniel Noboa, enfrenta 15 candidatos, entre os quais, a mais bem posicionada nas pesquisas é Luisa González, da Revolução Cidadã, partido do ex-presidente Rafael Correa, que governou o país de 2007 a 2017. As pesquisas dão resultados divergentes: algumas dão vitória para Daniel e outras mostram Luisa à frente no primeiro turno.

Em outubro de 2023, o direitista Noboa venceu González, de centro-esquerda, no segundo turno por 52% dos votos. Ele foi eleito para um mandato tampão de 15 meses depois que o então presidente Guilherme Lasso dissolveu o Parlamento e convocou eleições antecipadas.

A socióloga equatoriana Irene León conversou com a Agência Brasil diretamente de Quito, capital do país. Ela explicou que o megaempresário Noboa, cuja família é dona da holding Nobis, que atua em diversos negócios, tendo se consolidado como maior exportador de bananas do país, é próximo aos governos dos Estados Unidos (EUA), da Argentina e de El Salvador.

Ele é o herdeiro mais rico do país e é parte desse entorno econômico. Se ganhar as eleições, vai continuar colocando à disposição do mercado, do grande capital, tudo o que o país tem. O foco da sua proposta é uma economia associada à visão anarcocapitalista libertária que está em ascensão na América Latina”, afirmou Irene.

De outro lado, está o grupo político do ex-presidente Rafael Correa, que lançou novamente Luisa González para disputar a Presidência. Condenado há oito anos de prisão por corrupção, Correa está exilado na Bélgica. Ela diz que é vítima de perseguição política por vias judiciais, prática conhecida como lawfare.

Segundo a socióloga Irene León, o partido Revolução Cidadã ainda é a principal força política organizada do país. “Luisa González propõe medidas para a reativação da economia com o envolvimento do Estado, mas também de outros atores. Têm uma proposta de menos dependência da exportação do petróleo e também defende a auditoria da dívida externa”, acrescentou.

Para levar a eleição no primeiro turno no Equador, o candidato tem que ter mais de 50% dos votos ou mais de 40% e uma distância de 10% do segundo colocado. Todas as pesquisas têm indicado um segundo turno entre Daniel Noboa e Luisa González.

Criminalidade
Em cinco anos, os homicídios aumentaram 588%, tornando o Equador um dos países mais violentos da América Latina. De uma taxa de 7 assassinatos por 100 mil habitantes, em 2019, o pequeno país de 17 milhões de pessoas registrou, em 2024, 38 homicídios a cada 100 mil pessoas, segundo dados do Ministério do Interior e Justiça do país. A título de comparação, a taxa de homicídios no Brasil foi de 18 por 100 mil habitantes em 2024.

Segundo o antropólogo Salvador Schavelzon, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o eleitor equatoriano deve definir seu voto, em boa medida, avaliando como os candidatos se posicionam em relação ao aumento da violência.

A questão da segurança tem substituído outras que tradicionalmente eram importantes e pautavam as eleições no Equador, como a questão indígena, o extrativismo, a ecologia. Estes foram temas importantes no processo constituinte de 2008. Agora, a eleição é sobre violência e segurança. Isso joga a favor do Daniel”, disse Schavelzon à Agência Brasil.

Conflito armado
Ao menos desde 2021, o Equador é sacudido por rebeliões, motins e guerras entre facções do crime organizado. Menos de três meses após Noboa assumir o governo, explosões, sequestros e até a invasão de um telejornal ao vivo por criminosos levaram o presidente a declarar o país em conflito armado interno, classificar os grupos criminosos como terroristas e ampliar os poderes dos militares na segurança pública.

As medidas resultaram no aumento das denúncias de torturas, execuções e prisões arbitrárias no país, vitimando principalmente a população mais pobre. Em janeiro deste ano, foram achados os corpos de quatro adolescentes que tinham sido presos por militares, em Guayaquil, fato que chocou a opinião pública equatoriana e levou à prisão de 16 agentes das Forças Armadas.

Para o especialista em América Latina Salvador Schavelzonm a resposta de Noboa de “mão dura” contra o crime tem muito efeito midiático, mas não necessariamente gera soluções. “Muitas vezes tem presos, mas os cartéis continuam funcionando, os grandes nomes do tráfico também não são necessariamente presos, [atuando] inclusive em cumplicidade com militares e com o poder político. Ou seja, é uma violência contra os mais pobres, que acabam pagando o custo. As forças de segurança também não sabem como lidar e vira uma questão mais midiática, e a eleição expressa isso”, afirmou.

Irene León destacou que a política de segurança de Daniel Noboa não considera o setor exportador e a lavagem de dinheiro, onde estariam, segundo a socióloga, os núcleos que permitem ao crime organizado continuar operando no país. “Na guerra de Novoa, esses setores não têm sido tocados, mas quem está sendo agredido muito são os pobres e os afrodescendentes”, afirmou.

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